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quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Sessão Pornô

Velha história lembrada no veraneio


Once upon a time… 

No inicio dos anos 70 quando ainda nem existia video cassete, (Tv nem todos tinham, era analógica com canais abertos, no máximo 4) e filme era no cinema, Tio Arlindo e Tia Amelinha viajaram para a Europa e ele comprou um filme (16mm) dinamarquês pornô, famoso na época, ja tínhamos ouvido falar… Ele não comprou o projetor, tomou emprestado, provavelmente só existia um  na cidade de Vitoria da Conquista. Foram realizadas 2 sessões, uma para os homens outra para as mulheres casadas.


Estávamos de férias em Conquista, Tio Arlindo e Tia Amelinha não estavam na cidade, e sob o comando de Edinho, resolvemos fazer uma Sessão Pornô Mista para os Solteiros. O filme foi fácil achar, não estava muito escondido, afinal não tinha projetor na casa. Em conversa com Noelia, Edinho soube quem era o dono do projetor e partimos para pegar o projetor emprestado, em nome de tio Arlindo, claro. Esperamos no carro enquanto Edinho, na cara de pau, pegou o projetor.


Voltamos, Edinho, como sempre engraçado, falava: “Preciso passar na casa de Noelia para pegar minha cueca de força!”.. E passamos para chamar Lucinha para ir ver o filme mas ela não topou…


E então em plena sala de visitas da casa de Tia Amelinha, vimos o tal filme. Éramos, com certeza, eu, Fernando, Edinho, Iris, e mais alguns que não me lembro exatamente.. talvez Vaneide, Eleusa, as vezes penso René, mas duvido pois este era muito sério, não apoiaria o projeto.


Do filme… 

Um espanto, claro!.. Na época os filmes no máximo tinham beijos, nada de cenas picantes como atualmente tem até nas sessões da tarde. Uma decepção para mim, que imaginava um enredo: o mocinho se apaixonando pela menina, começam namorar, e as coisas vão acontecendo até chegar aos finalmente… O filme não tinha enredo, não tinha som, nada, simplesmente cenas de sexo explícito com vários atores e várias posições. 


Tia Amelinha nunca soube dessa aventura, acho que mesmo depois que ela se transformou AmelinhaTernurinha nunca iria aceitar essa transgressão e certamente ganharíamos uma bronca mesmo depois de adultos. 


Quando contei essa história no veraneio, Norma disse que não sabia, mas Noelia apesar de não ter participado da sessão, digo seguramente que foi cúmplice, cairia na bronca de Tia Amelinha também.


E Leo perguntou admirado: “Fernando viu o filme !!!?”… por um instante não entendi o espanto, depois me lembrei que ele não conheceu Fernando solteiro… rs

Projetor 16mm - para ilustrar..


Um “causo” lembra outros “causos”

Naninha lembrou uma historinha dos anos 90, época do vídeo cassete. Estavam na casa de Noelia: Tia Amelinha, Nelson e Edinho … e resolveram ver um filme que Ivana tinha alugado.
Começou o filme… cenas picantes … e foi aumentando… todos sem graça .. Nelsao foi o primeiro a reclamar, tia Amelinha saiu da sala, Edinho chamou Califa… e os três disseram que a casa dele estava um “mangue!”. Aquilo era um absurdo! Quem alugou o filme???
Ivana! Que se defendeu dizendo que Naninha indicou. 
Final da história: o filme indicado era Filadélfia e o alugado foi Califórnia!… Coisas do 904!!!!



Ana Paula lembrou outra, provavelmente 1976.
Nelson e Hilda foram ao cinema assistir Dona Flor e seus dois maridos.
Antes de terminar o filme Nelsao levantou : vamos Hilda! Não vou ver esse filme pornô!…
E essa foi a última vez que ele foi ao cinema.


segunda-feira, junho 20, 2022

Antiga estrada de trem gerou este papo


Isabel:

Já andei nesse trem. Íamos de Conquista para Jequié de ônibus. Na parada íamos ver minha bisa Maria Rosa, mãe de Cecília e Nicacia, pegávamos o trem para o Onha onde passávamos alguns dias. Depois o trem para São Roque e de lá o Vapor para Salvador…. (Anos 50)



🤔Célia, Lula e Duda são netos de Nicacia e de Cecília, então Maria Rosa era bi-bisa deles.

Noelia 
Fizemos muitas viagens, nasci na fazenda de vó Emília, voltamos muitas vezes pra visitá-la, tios e muitos primos, marcou a nossa infância!

Célia 
Lembro desta viagem quando fomos conhecer a bisavó. Foi a primeira e única viagem de trem de ferro que fiz no Brasil. Fiquei encantada porque eu enjoava demais quando viajava de carro e de trem não senti enjoo. O melhor da história é que, quando chegamos no Onha, para ir para a fazenda, fomos "montados" num boi: Lula, o mais velho, sentado na cangalha e eu e Duda, ao lado, cada um dentro de num panacum. Como esquecer uma aventura desta? Mas, confesso, chorei bastante logo que me colocaram no panacum.

Ivana
Kkkkk lembro-me de ter sido colocada no panacum na viagem para o rio São Francisco

Isabel
Eu fui ao Ronco tambem quando criança, imagino que eu tinha uns 7 ou 8 anos. A lembrança que tenho é que Noemi caiu do cavalo e ficou com uma mancha roxa no bum-bum…

Célia
O animal do transporte era boi ou cavalo? Só vi gente montar em boi em Nazaré das Farinhas. Minha mãe disse que a região tinha muita lama e os cavalos, burros e mulas escorregavam. Os pés do chifrudo eram mais apropriados. Além do trem de ferro, ser transportada num boi também foi inédito.

Ivana
Eu acho que foi um burro! Minha mãe deve saber! 🤔

Isabel
Já andei de panacum também nas fazendas de Tio Arnobio e Tio Isaias. O transportador era burro. Eu era super-medrosa então preferia ir no panacum. Tinha medo de andar na garupa. Numas férias na fazenda de tio Isaias, saíamos a cavalo, isso é, Lula, Virgínia e Íris iam sós nos cavalos. Eu e Célia, com tio Isaias. Célia, menor que eu, ia na garupa, e eu no cabeçote.
Acho que fui a criança mais medrosa da face da terra!…
Por isso mesmo, admirava demais Jojô Viana quando era criança, porque eu via nela, uma criança destemida…

Charles
Família de panacunzeira🤣🤣

Jojô 
Hoje eu sou muito medrosa

Noelia
Foi pena não termos na época como tirar fotos! A nossa viagem pro Barro Preto, fazenda dos avós maternos, Nilson na cangalha, Norma e Zeu num panacum eu e Edinho no outro.

Marcelo 
Quando eu morava aqui em Jaguaquara (1961-64) meu pai me levou pra Salvador de trem e vapor: chegava lá bem tarde.

Norma
Edinho e eu  os gordinhos Noelia e Zeu os magrinhos. Tinha que colocar pesos iguais pra equilibrar os panacuns. Como éramos muitos ...

Lila 
Eu ivana e Robinho já andamos por lá no panacum.

Naninha
Quer achar um Barreto , vai ver lá no panacum!

Lula
Vocês esqueceram do jegue. Fui pra  fazenda em iguai com Carmélia pegar sistosoma no rio de água corrente que não tinha. Ela me colocou num jegue, quando ele empacou ela enfiou uma cana e torceu. O jegue deu um pinote e me jogou na chão!!!

Noelia 
Bela aventura! Os meninos de hoje não teem essa coragem

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César Fonseca (neto de Mariquinha) disse...

Bel... obrigado por esse filme. Quase deu pra ver uma das casas em que morei. Emocionante!
Esta estação de Jequié era meu parque de diversões. Tinha umas "agulhas", um mecanismo manual, de ferro, que me permitia, com muito esforço, desviar o caminho do trem. Além disso eu colocava pedras coladas na linha, na esperança de descarrilhar a composição. Repor a composição na linha era um trabalho de muitos dias, uma festa! Mas a cada chegada do trem, o guarda da estação, um negro muito gordo, cujo nome esqueci agora, vinha balançando as banhas, suando no sol quente, para desfazer as merdas que eu havia feito...
Minha vó contava ter chegado nesta estação no meio de um tiroteio, que teriam deixado a parede crivada de balas. Mas acho  que era mentira para nos divertir.
Minha vó Mariquinha cuidou de sua bisa Maria Rosa. A cada 15 minutos ela reclamava para mudá-la de posição na cama. Eu lembro disso, em uma visita. Mas eu estava encantado com a cadeira de rodas dela, de madeira, pesada... empurrava pra lá e pra cá, fazia uma zoada da zorra! No quintal tinha um pé de goiaba. Vai ver nos batemos por lá. Idos de 1958, por aí.
Quase perdi um calcanhar  debaixo da roda de ferro de um troley. Passei dias na cama com o pé inchado, usando mastruz!
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Hamilton Ipê disse...

LINDAS RECORDAÇÕES, BELA HISTÓRIA!
Também tenho minha história sobre esses trilhos históricos, e resolvi contar.
Era dezembro/1957!
Meus pais, Arnóbio e Carmélia, planejavam ir a São Paulo no janeiro seguinte, passar uns dias com Tia Dora, Tio Moisés e Nete, os outros já tinham se desgarrado. Queriam levar os três, mas, eu, além de não gostar de São Paulo mesmo sem conhecer a cidade, via a oportunidade de, próximo aos 16 anos, trafegar livre e solto.
Depois de muita insistência, minha mãe concordou e combinou que eu ficaria na casa de Tio Saló e Tia Dalva.
Viajei para Salvador de ônibus, durava quase 24 horas em estrada de cascalho. Nas proximidades do km 100 o veículo quebrou, ficamos mais 24 horas esperando socorro.
Chegando em Salvador, fui direto para o Barbalho onde residiam meus tios e filhos. Fui muito bem recebido por todos. Carlito, Célia, Cléria, Cleuse. (Por sinal, alguém sabe por onde andam?).
Chegou o dia de retornar a Conquista, e decidi ir de “vapor” até São Roque do Paraguaçu, e, depois, de trem para Jequié. De lá pegaria um ônibus.
Na hora da saída de casa, Tia Dalva me aprece com um pacote retangular medindo aproximadamente 40x30x20, que pesava no mínimo 15 quilos. Não disse do que se tratava, com a recomendação de entregar a tia Adélia, em Jequié.
Com o pacote no ombro e a mala na mão, fui direto para “a baiana” na enseada do mercado.
Já não suportava o esforço, ainda mais para subir e me acomodar no “Maragogipe”. Fiquei no convés a observar a beleza da Baia de Todos os Santos, e pensava:
“como vou tirar esse pacote do navio e correr, sim, correr para pegar o trem?” (Eh!, era preciso correr para pegar um lugar no trem).
Confesso, que por diversas vezes estive muito próximo de jogar o pacote nas águas azuis turquesa. Desistia ao lembrar dos dias agradáveis e o tratamento recebido.
Chegando a São Roque já estava preparado para descer e correr. Não me esqueço da competição com o pesado pacote no ombro e a mala na mão. Consegui chegar e encontrar lugar no trem. Como era próximo ao horário de almoço, pensei: “vou almoçar, levo a mala e deixo o pacote no banco de madeira do trem. Se alguém quiser levar, pode levar, mas, duvido quando sentir o peso”.
Assim fiz! Sentei numa das muitas barracas existentes nas proximidades da Estação e comi uma refeição que jamais esquecerei: Feijão, arroz, farinha, e muito, mas muito camarão regado a pimenta. Demorei tanto que quando o trem apitou sinal de que daria a partida a qualquer momento, paguei e quase não aguento chegar e subir no trem.
Dormi até Jaguaquara, já início da noite o trem chegou a Jequié. A Estação de Trem (hoje parece ser sede do Corpo de Bombeiros) ficava a uns bons 2 ou três quilômetros do final da caminhada.
E agora, vou ter que passar por tudo novamente. Colocar o pacote no ombro, mala na mão e ir para a casa de Tia Adélia.
Quando cheguei, Tia Adélia não esperava o pacote, foi um presente de “crente”. Quando abriu e vi do que se tratava, me arrependi amargamente de não ter jogado o pacote aos peixes.
Propagandas da Igreja Batista!!!

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sexta-feira, junho 05, 2020

O Carrascão

Texto de Nando Costa Lima

Ele foi construído pra ser a sede do “Clube dos 50”, uma área que seria usada só pelos sócios. Quem desenhou a planta foi Elomar. Conquista era bem menor. O “Carrascão” ficava numa das partes mais altas da cidade, o que nos proporcionava uma vista linda. Como clube particular quase que não foi usado, foi aí que Robério Flores comprou as partes dos sócios e transformou aquele lugar numa das casas noturnas mais concorridas do interior da Bahia. Ali foi palco de muitos momentos bonitos de várias gerações conquistenses, uma “festa” que passou a fazer parte de nossa vida… 


Lá se escutavam os últimos lançamentos das músicas nacionais e internacionais, e na época de férias era o ponto de encontro da rapaziada. Aqui ainda não tinha universidade, e todo jovem que quisesse fazer um curso superior tinha que ir pra Salvador, ou pras universidades mineiras e cariocas. Todos se conheciam e isto tornava o ambiente bem mais agradável, era como se fôssemos uma só família. Eu até hoje não consegui entender como cabia tanta gente naquele espaço tão reduzido, e na época ainda podia fumar em ambientes fechados, a fumaça era tanta que ficava difícil você distinguir as pessoas. Depois de alguns whiskys e cuba-libres ficava quase impossível.


Ali foi a sala de início de namoros que hoje já tem até netos. Antes de subirmos a serra nos reuníamos no Candelabro de Marivan ou no Poleiro que ficava na praça Barão do Rio Branco. Quem tinha carro levava quem não tinha e os que sobravam dividiam uma corrida de táxi. Mas ninguém ficava sem assinar o ponto no Carrascão. Roberão era um cara carismático e se dava bem com todos. Com jeito se convencia Zé Lopes de deixar você entrar até quando estava duro! Só que tinha dia que não dava pra entrar nem pagando a consumação, a boate superlotada ficava tão cheia que nem dava pra dançar o rock, ficava todo mundo parado, sacudindo o corpo da cintura pra cima. É claro que de vez em quando rolava uma briga (coisa raríssima), mas o espaço era tão pequeno e a amizade tão grande que acabava logo depois que começava. Quando a briga era do lado de fora, Zé Lopes, com seu traje impecavelmente preto apartava e ainda dava uma bronca nos brigões. A técnica dele era simples: bastava ameaçar que se continuasse a briga não entrava tão cedo no “Carrasco” que os valentões abaixavam a bola. 


O Carrascão era como se fosse um divisor de águas, ele marcou a transição da puberdade para a vida adulta de várias gerações… Depois de passar a primeira noitada no Carrascão, nós conquistenses passávamos a ver Conquista de uma maneira diferente, ele nos tornava ainda mais apaixonados pela terra do frio. Calça Lee, fusca com tala larga, cuba libre, Creedence, Poleiro, toca fita TKR cara preta, Candelabro, Carrascão… saudades. O tempo é foda, de repente tudo foi ontem, um passado que insistimos em guardar. Acho até que é uma maneira que encontramos de chorar sem que ninguém veja. 


Agora eu sei o que o poeta Erathostenes Menezes sentiu quando comparou uma árvore que fez parte de sua adolescência a ele:
“Buscando a tua sombra A evocar o passado
A ti eu me comparo, – amigo abandonado
Tu já não tens mais vida
eu já não canto mais”
Toda vida é um poema… Palavras que vêm do peito de dentro do coração, um universo restrito bordado de ilusão.

segunda-feira, janeiro 13, 2020

Motéis

Os cariocas chegaram a Salvador para se refrescar do verão do Rio,  sensação térmica:50 graus. Hospedaram-se no cafofo de Praias do Flamengo. E eis que no sábado após festas de final de ano, com o dono da casa em viagem, fomos chegando de mansinho e sem nenhuma combinação prévia. De repente, varanda cheia... cumprimentos, cerveja, conversas, risadas, não sei como a conversa chegou ao assunto:  Motéis...

- " e ainda existem motéis?" - perguntou alguém - "atualmente não são mais necessários". ...
Lembranças dos bons tempos quando os motéis estavam em alta, começaram  confissões e fofocas.

Um casal contou que foi certa vez, para um motel passar uma noite diferente. Muito diferente, os dois passaram a noite vendo filmes, corujão da madrugada.

Aproveitando que a casa foi dedetizada, outro casal, resolveu ir para o melhor motel da cidade, na época o Del Rei. Ao chegar eles passaram mais de 1 hora matando muriçoca e tentando desligar o som. Quando se deram conta da situação, começaram a rir e nada de clima, foi o jeito ver Jô Soares 11 e 30, e dormir...

Um "causo" mais antigo, quando o "point" era o Le Royale, um da família, convidou a esposa para conhecerem esse motel. A caminho,  ele comentou: “Lá tem piscina!..”, e ela respondeu: “Por que você não me avisou antes? Não trouxe meu maiô!”. Ele disse que não era necessário e quando chegaram ao quarto, ela surpreendida: “Oh! Que piscininha legal, por que a gente não trouxe as crianças?... Elas iam adorar!...”

E no tempo das vacas magras, dois ainda estudantes, só tinham 2 opções, a laje do prédio onde um morava e o pai era o síndico, era  só pegar a chave escondido e se trancar lá no alto, ou o Motel Las Vegas no Largo 2 de julho, para os que não tinham carros. A entrada era uma escada, casal subindo, casal descendo. E será que trocavam os lençóis? Duvidoso!... mais seguro levar ...

E para finalizar lembraram uma história muito engraçada. Lau queria conhecer um motel. Tio Arlindo se prontificou levá-la, mas ela preocupada em ir só com ele, chamou Quinha para participar do evento. Então começamos imaginar a cena, os três chegando ao Motel... e foram muitas risadas. Alguns duvidaram dessa história e começaram a ligar para uns e outros pedindo confirmação. Nem Norma, nem Célia confirmaram, mas Noélia sim, só não sabia os detalhes.
 
Nesse registro do encontro, faltam Art, Lilian e Anete. E o fotógrafo Pier.


quarta-feira, novembro 20, 2019

Aventuras em Feira de Santana



Eu diria que essa foi minha melhor história individual, meu maior aprontamento de criança. Uma história que teve risco de morte, mas graças às “minhas habilidades” nada ocorreu. Eu morava de Feira de Santana no inicio dos anos 80 e tinha por volta de 8 anos, meu esporte favorito era me dependurar no fundo dos caminhões que passavam na frente de casa e ir pendurado até o próximo quebra-molas, eu era quase profissional, tanto que um dia um caminhoneiro resolveu passar direto no segundo quebra-molas e fui parar na BR324 sem cair, pulei fora quando ele reduziu a marcha para subir no asfalto, me ralei todo e voltei a pé para casa e não errei o caminho, quase fui para Salvador por acaso. Este dia me fez repensar esse "esporte". Essa quase ida a Salvador e o risco de morrer atropelado me assustaram, precisava mudar. 
Comecei a olhar em volta em busca de novas emoções e vi que o Fusca 67 era igual de um filme dos trapalhões, onde Didi segura com a mão o parachoque, sentei no meio e vi que aquilo era um excelente assento. A possibilidade de ter a mesma emoção do caminhão, mas dessa vez com a segurança de voltar para casa me alegrou, viajar sentado, poder olhar para os lados seria um luxo, era ali que ia sentar. O problema que para o carro andar era preciso de uma motorista, a minha mãe, que não ia concordar nem um pouco com minha brincadeira e que tinha um cinto que ficava na bolsa enrolado para uso eventual, tive que desconsiderar esse risco, pois se eu ia voltar para casa no final qual seria o risco? não haveria risco, seria um passeio de retorno garantido, passei então a imaginar quando seria essa viagem. Por alguns dias monitorei D. Lucinha saindo com o carro, calculando tempos, fazendo ensaios mentais, mas não consegui solucionar como sair de casa sem ser visto. Tinha uma coisa a meu favor, a porta de casa era uma porta de ferro com vários vidros, um deles vivia quebrado por conta da bola que sempre batia lá e dava para eu passar pelo buraco do vidro, então meu local de escape já estava definido. Um belo dia ela estacionou o carro de ré e depois do almoço ela disse que iria ao mercado, eu estava brincando de cabeça baixa e continuei, mas já calculando os passos para escapar pelo buraco da porta. Depois do almoço ela pegou a bolsa e foi saindo, eu continuei brincando, ela fechou a porta de casa e através do vidro vi que ela havia se virado de costas, rapidamente corri por trás da cortina e escapei pelo buraco do vidro, nesse momento ela estava arrodeando o carro para entrar, me abaixei próximo ao pneu traseiro, quando ouvi que a porta se abriu me posicionei no fundo, quando ela sentou no banco sentei junto, ela não viu nada, ligou o carro e lá fomos nós!.
Nos primeiros 100 metros a turma do bar da esquina deu uns gritos, acho que minha mãe pensou que fossem bêbados e acelerou. Eu tentei tirar uma mão do suporte para pedir silêncio, não consegui, passamos em frente a rua de Pat e não há vi, graças a Deus senão eu seria denunciado imediatamente, seguimos em meio alguns buracos da rua Rui Ary Barroso e naquele trecho inicial da rua tinha muito buraco, o carro ia devagar, molhei o pé em algumas poças de lama, vi que o passeio seria além de tudo refrescante, mas vi que não dava para colocar o pé no escapamento porque tava esquentando, fui com o pé pendurado. Fomos seguindo mais à frente e mais gente gritando e Dona Lucinha seguindo sem ver. Eu sacudia de um lado para o outro e quase caí, a sorte que o suporte do fusca segurava meu corpo, deu um certo medo passar pelos buracos, mas graças a Nossa Senhora das pistas chegamos rápido no asfalto, aí o medo mudou de cara. Nos primeiros segundos senti um alivio tremendo por falta de buracos, mas logo em seguida veio um medo enorme por conta da velocidade, ela acelerou e tive que fazer força para me segurar, aguentei firme até ela estabilizar a velocidade, foram segundos deliciosos sem buraco junto com medo de morrer. De repente vejo um carro vindo em minha direção e meu corpo gelou daquele medo dele bater em mim, o coração apertou, mas deu para ver que o carro tava diminuindo a velocidade e tinha uma moça do lado que tava abrindo a boca. O cara tava de boca aberta também e começou a buzinar ambos gritando com a cabeça de fora, o cara voltou para dentro do carro buzinando, eles tentaram ultrapassar, mas não deu, então voltaram a buzinar incessantemente, eram uns desesperados, fiz cara de blasé. Neste momento começou acender uma luz no meu lado esquerdo, estávamos chegando no mercado e a moça do carro ainda gritando e a buzina comendo solta, minha mãe saiu da pista em direção ao mercado e o carro passou do lado, a moça tentou dar o ultimo aviso e nada, dei língua para moça.
A entrada do Paes Mendonça era de barro, uma poeira infernal, começaram novamente pessoas gritando na rua, a rodoviária era do lado e tinha muita gente a pé, mamãe reduziu a velocidade para entrar na área calçada, senti um alivio novamente e comecei a pensar se dava para voltar na mesma posição, mas o povo do mercado foi logo apontando o dedo para o “minino”, então quando o carro parou eu saí do fundo e fiz uma pose de Fred Astaire e gritei – Tcharam!!!! Mamãe tomou aquele susto, me falou alguns palavrões, me mandou esperar no carro enquanto fazia compras, voltei meio desconfiado, quando chegamos em casa tomei uma surra. Eu ia inventar um novo esporte, desisti.

sexta-feira, outubro 11, 2019

Iniciações na fazenda..

O sexo sempre foi assunto obscuro na família brasileira e na nossa então nem se fala, mas para mim que vivi no ambiente rural, sexo fazia parte do dia a dia e as descobertas aconteciam naturalmente. Na fazenda a coisa começa cedo vendo os animais fazendo sexo. O pato, a galinha, o cachorro, o boi, o sapo, o cavalo e até lagartixa transava na nossa frente. Depois de ver tanto fudistório ao nosso redor chega uma hora que alguém levanta a questão – E homem e mulher também cruza? – Oxe, é o que mais faz!, alguém respondia, mas como ninguém tinha visto um macho e uma fêmea da raça humana cruzando no pasto então não faziam parte de nossos assuntos diários. O universo rural daquela época era totalmente desconectado da TV e tinha uma relação muito estreita com a cidade, havia também um certo moralismo para se falar de sexo com as crianças, então nossa realidade “pornográfica” se resumia a assistir sexo entre os animais. Para nossa alegria, de vez em quando, tínhamos que levar uma égua para cruzar com o cavalo do vizinho e era tão emocionante quanto o UFC (poucos anos depois este seria um dos meus programas favoritos no Brejão com Quitão, velhos tempos). Uns 10 meninos acompanhavam a empreitada para a fazenda de Solom. Durante a caminhada de 3 km os meninos iam narrando o desempenho do cavalo com detalhes. Nessa época como todos eram mais ou menos da mesma idade entre 6 a 11 anos ninguém sabia ao certo o que era o sexo – a palavra em si, sabíamos o que era cruzá, sabíamos de cor o que era o ato animal. Lembro que após algumas sessões assistindo os equinos, Leo decidiu trocar o pinto dele pelo do cavalo, ía perguntar a Tio Eliezer se ele fazia a cirurgia, mas o pessoal da fazenda desaconselhou, era melhor não colocar, pois onde que ele ía guardar “aquilo” daquele tamanho? O cavalo puxava para dentro das ancas e nós que somos humanos não temos espaço, se subir para a barriga vai ficar parecendo que tem hérnia, se guardar nas calças a polícia pode parar e perguntar o que é e Leo falava sem  cerimônia  – Eu ia dizer que era meu pau, o nativo respondia – pois ele ia te prender, porque não pode falar palavrão para polícia, meu pai completava dizendo que no dia que ele colocasse as mulheres da região iam todas fugir (um nativo falou meio baixo.. – Ou não né seu Edim?) , - Mas é para enfiar na égua!, dizia Leo, - Para nascer um filho com cara de cavalo!?, falou seu Edinho e o nativo completou logo depois, - Mas também pode nascer com a cabeça de Leo e o corpo de cavalo Seu Edim, meu pai respondeu, - Piorou! Vai cagar tudo e dar coice dentro de casa, quero não, isso não dá certo! enfim, depois dessa argumentação Leo desistiu do implante. Os mais curiosos como eu ficavam imaginando o porquê da atração pelo sexo, como que um filhote era feito a partir daquela “briga”, porque o cavalo tinha que enfiar o pinto (to sendo educado) na égua?, o que acontecia lá dentro da égua?. Eram questões que as respostas ainda estavam a caminho. Nesse tempo eu ainda não gostava de menina, apesar de gostar de ver peito, trocava a companhia de uma garota por qualquer aventura irrelevante, na verdade tem uma fase que as garotas são nulas, é como se fosse um menino cheio de frescura que não pode tirar a roupa na frente da gente e não pode brincar de medir o pau na varanda, um trem chato. É preciso passar um tempo, que passa rápido, para ver que a mulher é um trem bom, mas antes disso, dê cá meu skate. 

Antes da puberdade o cruzamento animal, para nóis da roça, era uma coisa tão natural e divertida que brincávamos com isso o tempo todo. Era muito comum narrarmos o coito animal com gritos de – ACUNNNNNHA! E imitações do canto do jegue ao redor de cachorros, patos e principalmente cavalos, às vezes os animais corriam de tanto grito e algazarra que se fazia em volta. Nesse período nossas conversas giravam em torno dos órgãos sexuais dos cavalos e bois, a respeito do tamanho e flexibilidade de cada um. Nesse ínterim o Leo mais uma vez, com 6-7 anos, encomendou uma buceta de vaca e o açougueiro fez questão de levar. Recebemos a buceta com desdém, um bucetão esparramado em uma tampa de panela, alguém segurou pelas pontas e mostrou um buraco, nós olhamos meio descrentes e vimos o açougueiro do outro lado, não fez muito sentido, podíamos vê-lo sem a buceta da vaca, a buceta atrapalhava de ver o outro lado.., passamos um tempo achando que buceta era coisa de vaca e menina tinha xibiu... vou pular essa parte. Olhamos para aquilo e pensamos, - Devíamos ter pedido os peitos... as brincadeiras continuaram até ao final de uma tentativa sem sucesso do açougueiro enfiar a cabeça, de cima, pela buceta, tirou o chapéu e não deu certo, aí decidimos levar a buceta pendurada em uma vara de pescar para ver a reação do boi, ele cheirou e correu.  Jogamos para o velho Cacique, antigo cachorro da fazenda que tem história, Cacique comeu a buceta em duas bocadas. Voltamos meio impressionados com Cacique, Leo – Painho! Cacique comeu a buceta! – E lambeu os beiços? – Lambeu! – Ai eu vi! isso sim que é comedor de buceta retado, não é uns frouxo que eu conheço que ficam aí tomando garrafada do mato... , falava olhando para Zé Rodrigues e mais uns quatro na roda de papo, não entendemos a piada, mas todos riram muito, inclusive nós.

Na beira da minha puberdade, mas ainda antes disso, eis que tio Arlindo aparece com uma pilha de umas 200 revistas suecas pornô, me lembro que ele separou a metade e deu para um rapaz a outra metade seguiu viagem. Eu tentei ver, mas não deixaram, não era coisa de menino da nossa idade. Não me lembro quem as recebeu primeiro, mas chegou ao conhecimento de Seu Edinho que fez uma pesquisa rápida entre os jovens e perguntou a idade de alguns rapazes da fazenda, alguém falou, - Fernando tem 16!, Fernando era filho de Joaquim, vizinho de fazenda, -Chama ele aí, o pessoal olhou para Fernando e o chamou movimentando os braços tipo, “CORRE!, que tem coisa para tu aqui!”, Fernando veio correndo desbandeirado com a boca aberta e sorriso no rosto achando que ia ganhar um jaleco, ao chegar recebeu uma pilha de “livro” e entristeceu rapidamente, mas quando abriu a primeira revista abriu um sorriso diferente e a garotada percebeu.  Alguém falou, - É revista de putaria!, gravamos o nome putaria. A garotada de 10 anos acompanhava milimetricamente o manuseio da pilha de revistas, o sorriso de quem as via, os homens falando –Eita porra!, alguns apontando imagens e evitando nos mostrar, de relance vi uma mulher sem sutiã numa capa, minha sobrancelha subiu. No final dessa sessão Fernando catou as revistas e seguiu para a casa, acompanhamos cada passo e ficamos pensando, o que será que tinha naquelas revistas?. Na saída ele deu uma piscada para Tóin de Vardo e eu percebi. Eu não era muito próximo de Fernando, mas ele era próximo de Tóin de Vardo. No mesmo dia conversei com Tóin e pedi a ele que falasse com Fernando para nos mostrar as revistas, ele disse, ok, amanhã vou lá. Dia seguinte já tinha uma comitiva secreta formada de 10 pivetes, fomos acompanhando Tóin “para tomar banho no rio Preto..” saímos em caminhada Eu, Leo, Garrincha, Tóin de Vardo, Gabriel, Jão de Deus, Negão, Paco, Cáte e Pinduca. Os mais novos Leo, Jão, Paco, Cáte e Pinduca tinham entre 6 e 8 anos, estavam indo mais pela festa. Essa tropa dos mais novos parecia a turma da “caixa baixa” do filme Cidade de Deus, não havia canto que fóssemos que essas pragas estavam atrás. Na chegava Tóin perguntou para Fernando – Tem jaca no Rio Preto?!, era a senha, Fernando disse - Teeeeeem! (olhando de canto de olho para o pai Joaquim), tá no galho de baixo, e fez um movimento com a mão e veio caminhando em nossa direção, descemos para o Rio em comitiva atravessando uma roça de Andu. O velho Joaquim olhando de longe aquele bando de menino de canto de olho, não podíamos vacilar na caminhada para o Rio (meses depois o velho Joaquim nos denunciou). Na chegada, Tóin sobe no pé de jaca e lá estavam as benditas, cada um pegou uma e sentou atrás de algumas moitas para ninguém nos ver caso passasse pela estrada. No primeiro momento os meninos que viram as primeiras cenas tentaram comentar em voz alta e Tóin avisou logo, - Fala baixo que o véi Joaquim tá de olho. Então passamos a folear cochichando ou calados olhando como se lessem,  íamos repassando as revistas até ver todas, tinha revista de todos os gostos, sexo heterossexual, sexo animais e com travestis, não tinha homossexual, mas era bem melhor que a Hermes com a mulheres só de calcinha. Sexo com animais não nos era novidade, passamos rápido, com travestis achamos que era mentira e não chamou atenção. Ficamos vidrados na falta de vergonha das moças sem roupa na frente dos homens, esperançosos de ver uma mulher nua ao vivo um dia. Não tinha masturbação entre a turma, o pinto de alguns ficava duro, mas ninguém sabia o que fazer ao certo, ainda estávamos associando a nudez com a excitação, falou-se que quem não arrumasse uma mulher quando crescer tinha que comer uma jega para quebrar o cabaço, isso assustava, pois vai que ela dava um coice no saco!. – Mas né para agora não!,acalmava Fernando – Cês ainda tem tempo demais, é lá pros 20 anos! - Ufa, pensei, nessa hora olhei para o lado e alguns meninos da “caixa baixa” simulando sexo com uma jaca, – Tamo comendo jaca! ô jaca boa danada!, ajudava a disfarçar e todos riam. Enquanto o assunto desviava continuávamos foleando as revistas, tentando ainda entender o porquê que aquilo tinha que ser escondido, qual era a real graça de estar nu com mulheres sem pegar nos peitos. A sensação para nós não foi muito diferente do teatro ao vivo e a cores do cavalo com a égua, mas o fato de saber que existiam mulheres no mundo que ficavam nuas na frente de homens isso nos empolgava. Em dado momento perguntamos ao Fernando o que era putaria, Fernando respondeu, - Essas mulher aqui é tudo puta, outro pergunta, - O que é puta? – É uma mulher que o home paga para fudê, - Oxe, paga? – Fudê é o mesmo que cruzá? –É!, - Eu que não pago, disse Nego Jão, – Apois, em Jaguaquara tem um bando, - Oxe...é mermo? , nessa hora que se falou em dinheiro alguns perguntaram, - Tem foto do dinheiro?, passa folha para lá e para cá, - Tem não, vai ver pagaram antes de tirar a foto né? – Deve ser... para não roubar a moça, disse Gabriel. Nessa época o dinheiro era, na Fazenda, o centro da discussão, entre os meninos não se falava de mulher com intuito sexual, as mulheres de nossas vidas eram nossas mães que nos batiam e nossas irmãs que nos denunciavam, os que eram casados diziam que a mulher era o satanás e tinham uma jega de estimação, ou seja, cruzar com mulheres? até aquele momento era incógnita. As revistas de Tio Arlindo nos mostraram esse novo mundo, abrimos nossas mentes e voltamos para a Fazenda mais calados que na ida, descobrir a forma como homens e mulheres cruzavam foi uma novidade, ainda tínhamos muitas perguntas sobre as imagens, mas mesmo assim muito entusiasmados para voltar.

Na volta para fazenda fomos descobertos logo na chegada. Verríssimo já foi dizendo – Foram na casa de Fernando ver revista de putaria não foi seus muleque? Gabriel, que era meio tonto da cabeça respondeu – Foi !! , mas a gente não viu a foto do dinheiro não!!

Caímos na gargalhada.

O point das revistas ganhou novos visitantes, de outras fazendas e até da cidade. Soube que Fernando vendeu algumas revistas e comprou algo para ele, acho que foi uma porca. Muitos anos depois, creio que mais de 10, ainda vi algumas folhas rodando na casa de vizinhos da região e que eram guardadas escondidas no telhado, uma das minhas visitas foi na casa de Zoró, me disse que quando tava desanimado dava umas olhada e logo melhorava. 

Chegamos a herdar algumas quando fomos morar em Itaquara, guardamos no telhado do fundo da casa, numa tarde qualquer meu pai achou e veio com elas dentro das calças para nos mostrar como se fosse um tesouro perdido, ele foleava com cara de novidade e nós olhando para as revistas com a intimidade de quem já estava casado com aquelas mulheres há alguns anos, acho que ele ainda não sabe dessa..rs, ele nos deu sem saber que as estava devolvendo, guardamos no mesmo lugar. Quando fui para Salvador ligava para Leo as vezes e perguntava se as revistas ainda estavam guardadas, era parte de nossa história.

Enfim,
Em nome daquela meninada do Rio Preto,

Obrigado tio Arlindo.

quarta-feira, setembro 11, 2019

O que é Rio-Bahia?

Volta e meia quando a vida dá uma folga me pego pensando em coisas antigas e recentemente me lembrei de uma conversa que tive com o Nego Júlio lá da fazenda Paris. Nego Júlio ou Nego Júli era filho de D. Rosa e Seu Agenor, vizinhos da sede, tinha mais 3 irmãos que também eram próximos do convívio: Garrincha, João de Deus e Nair, mas o caso que contarei mais à frente aconteceu somente comigo e ele. Antes de entrar no caso, me permitam um parêntesis necessário para a história.

Como alguns devem saber, a Fazenda Paris não tinha luz elétrica no inicio da década de 80 e tampouco televisão. Os jovens e as crianças vinham sendo criados até aquele momento com pouco contato com a cidade, não faziam ideia do que era um desenho animado, o boneco Falcon, o Superman e seus amigos, era outro mundo. Me lembro que quando a energia chegou colocamos televisão e passamos quase a primeira noite inteira assistindo, uns 20 caras pendurados nas janelas da sala, alguns sentados no chão quase toda madrugada, assistíamos tudo, inclusive as propagandas, meu pai passava às vezes para mandar o pessoal piscar para não secar o olho, falava brincando mas conferia um a um – Jão piscou? – Pisquei Seu Edin!, - e Déo piscou? – pisquei três vezes – Boa! quem não piscar entra no banheiro e lava o rosto, todos piscavam para não perder uma cena. A noite ia bem e, de vez em quando, algum falava – Pisca senão Seu Edin vai mandar lavar o rosto, todo mundo piscava. Não me lembro muito os nomes dos programas de tv, mas assistimos a todos os jornais, novelas e o Corujão, acho que o conteúdo nem fazia muita diferença, o aparelho da TV em si já era um espetáculo, pessoas, cavalos e carros dentro de uma caixa, isso intrigava, em alguns momentos levantavam para ver alguma coisa por trás enquanto os outros narravam a cena, era bem engraçado, -Tá passando um cavalo, tá vendo aí? -Tô não, tem só uma luz!, meu pai passava e dizia que para enxergar tinha que usar o olho esquerdo meio aberto e meio fechado, mas podia cegar, nessa hora o pessoal se afastava e voltava para frente do aparelho, o equipamento impressionava mais do que o roteiro, até que de repente surge um tal programa chamado “Sessão de Gala”, aí foi um susto no meio da noite, os mais velhos gritaram – O que!? Eu que não fico aqui, perguntavam – É isso mermo? de gala? – Desliga isso Kim! -Lá ele!, outro gritou, seu Agenor não falou nada, simplesmente levantou saiu e nunca mais o vi assistindo a tv, Zé Rodrigues levantou e mandou Déo, seu mais novo, levantar para ir dormir em casa, Déo melindrou e Zé endureceu – Vai assistir um negócio de gala home?! tome vergonha!, outros riam de cair no chão, pois gala, para o nativo, é esperma. Eu tinha uns 12 anos e só entendi a debandada anos depois, a audiência foi reduzida para 2 ou 3 para assistir Noviça Rebelde, passaram a madrugada toda esperando a moça tirar a roupa. Pela manhã Tóin Marques tentou contar o filme e disse que a moça rodava que nem um pião e não via a hora dela cair no chão, outros disseram que tinha um tabuleiro com um Braquiara (tipo de capim) que cabiam mais de 1000 rezes e assim eu ia assistindo uma crítica completamente diferente das que tinha visto antes na minha vida.

Mas então, voltando a minha história com Nego Júli, algum tempo antes da luz chegar eu estava conversando com ele a respeito da cidade, dos prédios, explicando que as pessoas moravam em casas uma em cima das outras e tudo mais, até que ele falou que foi em uma cidade perto e que a estrada era feita de Rio-Bahia, perguntei – O que é Rio-Bahia? Ele respondeu, -É um trem liso, liso, liso sem buraco nenhum, - É asfalto? – Não, ele respondeu, - É Rio-Bahia, -É preto? –É meio preto, mas tem umas listras, disse ele – Isso é asfalto rapaz! retruquei, – Não é Rio-Bahia, asfalto eu não sei o que é, é liso também? – É liso sem buraco, - Apois, Rio-Bahia também é liso que nem esse asfalto, mas deve ser mais preto,  nessa hora eu fiquei curioso de saber o que era Rio-Bahia, mas precisava explicar o que era asfalto pro Nego Júli, então fomos atrás de alguém para elucidar o caso, como estávamos longe de casa recorremos ao primeiro que passou e era Seu Agenor, pai de Júlio e cortador de madeira, o Nego perguntou, - Ô pai, Rio-Bahia é o mermo que asfalto? – Eu num sei.. deve ser né?, Seu Agenor não ajudou muito e nossa dúvida permaneceu por longos meses até que fomos para Salvador e quando pegamos a BR116 Nego Juli olhou para mim apontando, - Aqui a Rio-Bahia!, eu falei – É isso que é asfalto! – Oxe, é do mermo então, nessa hora o motorista explicou, - Aqui é a Rio-Bahia que é feita de asfalto, - Ahhhh, eu e Nego Júli aprendemos. Voltando então ao filme da Noviça Rebelde, no dia seguinte, durante a explicação das cenas para os que saíram da sessão, Nego Júli foi falar que a moça tava atravessando o asfalto e o pessoal perguntou – O que Juli? –Asfalto! –Que diabo é isso? –Na Rio-Bahia!, repetiu Nego Júli para se fazer entender e nessa hora ele me deu uma olhada com um sorriso de quem tinha aprendido algo.

Há 35 anos atrás...

domingo, agosto 25, 2019

Chico, o ganso de estimação

Uma das alegrias da Fazenda Paris era o ganso Chico. 
Impressionante a ligação dele com Edinho. Fiel escudeiro. 
Recentemente apareceu um cachorro por lá, ainda sob investigação, 
que matou 4 gansos, entre eles estava o Chico. Tristeza.
Chico e Edinho
Texto de Naninha:

Quando nasci....não sabia o que me esperava....
Pouca memória dessa época, mas lembro da minha mãe e meus irmãos.....
Andávamos sempre todos juntos e minha mãe sempre nos protegendo  contra os perigos  naturais.....
Quando fui crescendo, entendi que tinha algo maior para eu fazer do que ficar sempre no meu mundinho....

Foi então que um dia passeando absorto.....apenas olhei para os lados  e vi uma figura   muito diferente de mim.
Vivia em um ninho gigante...... Me aproximei e percebi que estava dormindo.
Olhei... olhei olhei....e aquela figura me chamou a atenção.
Mesmo sendo arriscoso fiz um som para  lhe chamar a atenção.....
Foi quando abriu os olhos e e falou " É tu?"
Respondi de imediato...."Eh... sou eu"...
Ele me perguntou como estava a turma.... E se onde eu morava tava bom...
Respondi que tudo bem, mas achava o clima monótico....
Ficamos por ali um bom tempo.....A partir dali, passei a visitá-lo sempre que o via.... 
Contava-me tantos causos, que ficava intrigado com tantas histórias. Me contou que viajou para um lugar chamado Amazônia que tinha um rio de mais de 1000 léguas que parecia um mar. "Nunca vi o mar" pensei....
Me contou da sua infância....difícil.... aparentemente mais difícil que a minha..

Parecia sentir falta da sua mãe.... pois ela gostava do seu ninho, fazia muita festa lá....
E também do seu pai.....
Falava dos filhos que foram ali criados...corriam pra lá e pra cá..... Plantavam tomate.....Remavam o barco que ali existia....montavam cavalo....vacinavam o gadin.....
Por onde anda essas crianças? fiquei pensando.....

Falava dos irmãos, uns já tinham partido....Ele me falou pra onde... não entendi muito.....se tinha de ser bom ou mal...falar a verdade ou não... 
Sobrinhos? Que seria isso? falava com tanto carinho e afeto.....
Ele disse que tinha netos: os quatro eram crianças e que criança adora bicho. Bicho? Que seria bicho? 

Me contava essas  histórias, as vezes  ria pela lembrança, mas as vezes triste também ficava....e dessa tristeza....molhava seu rosto....
Não havia outros seres com ele e então .... passei a visita-lo, qualquer hora.... e ele aparecia ao meu chamado.....
Falava de uma tal política....  Esse papo as vezes me cansava um pouco.... mas o ouvia....
Recebia muita gente estranha que atrapalhava o nosso encontro e então tinha vontade de voar pra cima....
Anos e anos de amizade.

Suas ausências eram motivos de muita tristeza....
Já não queria viver com a minha turma.. 
Percebia que meu amigo tinha muito a me ensinar....
Chegava sonhar....

Tentava contar para minha tribo as coisas que aprendi, ninguém queria saber....
Sei que quando ele chegava, corria .. sem ao menos ser chamado,  mas sinceramente o que eu mais gostava mesmo era quando ele chamava: Chicccoooooo..... cadê você?

Bom... algo me aconteceu....estou em outro lugar..... Tenho procurado por ele todos os dias e não tenho encontrado. Se eu nunca mais o vir, só queria que ele soubesse que fui o ganso mais feliz de todos .  . 

Onde estou é bonito.... Mas não se compara a minha alegria de estar com meu amigo  Seu Edinho .....

sábado, abril 20, 2019


TIO FLORI
Sempre fui apaixonada por meus tios, mesmo porque me considero talvez uma tia frustrada. Tenho dois sobrinhos, filhos de Lula, que pouco tive contato, e seis outros, por parte de Ademário que, apesar de estar sempre juntos, nunca fomos íntimos o bastante por diferentes situações.
Esta introdução, talvez desnecessária para alguns, justifica o fato de meu post para falar de tio Flori (Florival da Costa Barreto). Marido de tia Noemi, pai de Isabel, hoje com mais de 90 anos, tio Flori é aquele que nunca procurou os holofotes. Em que pese talvez sua timidez, ou provavelmente pouco valor à exposição, tio Flori foi prefeito de Caatiba, Bahia (1977-1982).
Minhas primeiras lembranças de tio Flori vêm da infância: um homem calado e sempre com um olhar talvez crítico, mas conhecedor de cada situação. Naquela época, dizia-se que tio Flori era leitor costumaz das enciclopédias Barsa, Britânica e Larouse (tudo isto antes de aparece a Conhecer!).
Lembro-me de um pé de figo no quintal da casa cujos frutos eram cuidadosamente protegidos dos bicos dos pássaros com um saco de algodão pela arte de tio Flori. Não tenho certeza se estas figueiras produziram bons figos, mas que estas árvores eram bem tratadas, lá isto eram.
Em abril de 1961 o episódio da invasão baia dos Porcos nos alertou para eminência de uma terceira guerra mundial. Confesso que estava apavorada. Não me recordo como estavam o ânimo de minhas primas e amigas - principalmente Isabel, Bete e Vaneide – mas tio Flori nos relatou, didaticamente, a situação e que me permitiu dormi como um anjo sem esperar um ataque americano ou russo no meu pedaço. Obrigada, tio!
Quando eu estava entre os 10 e 13 anos, minha mãe, Amélia, considerou que devíamos ter um suporte para manejar melhor o nosso idioma. Propôs a tio Flori que fosse nosso professor. Não me recordo exatamente de meus colegas deste do curso (Isabel? Duda? Lula? Bete?), mas aprendi que nosso idioma era fundamentado no latim e no grego e assim poderia entender porque usar s ou z, ç ou ss.
No dia a dia, aprendi, com os exemplos praticados por tio Flori, a analisar os fatos, sem paixões e preconceitos, sem importar com as opiniões alheias, e, confesso que isto faz muita diferença em qualquer avaliação que participo profissionalmente.
Tio Flori hoje tem mais de 90 anos, com alguma dificuldade para ler e, é claro, já não anda como um adolescente. Mas, ainda tem muito que ensinar fundamentado em todo seu precioso conhecimento.
O que posso comentar, é meu reconhecimento e agradecimento a uma pessoa que me ajudou a ser mais independente de pensamento e ação.


quarta-feira, maio 31, 2017

Resultado dos sorteios das colchas

Devido a concorrência do Blog com o Whatsapp e Facebook, vejo que não foi publicado aqui o resultado dos sorteios das colchas. Falha nossa. Segue agora um breve resumo.

01 - Colcha de tricô. Família Viana.

Bem o sorteio foi feito no dia 25/12/2017, por tia Ana. Segue abaixo o link do  vídeo.

https://drive.google.com/file/d/0B-QepaVsl4KyN3E0MUE4M1JKb28/view?usp=drive_web

Coisa mais linda, com Iara comentando e filmando.

e o vencedor ..........

E ficou um novo desafio de fazermos uma colcha de fuxico. Os trabalhos já começaram. Agora mãos a obra de novo.

Bem, a colcha teve que sair do Rio para Belém. Como não teve nenhum portador foi por correio e 09 de fevereiro chegou ao destino. Em pleno frio de Belém.
Resultado de imagem para risadas desenho
Chegou!!!! Estou muito feliz
Tá quentinho aqui!!!

02 - Colcha de crochê. Família Barreto.
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Demorou um pouco mais. O sorteio foi na Semana Santa (15/04/2017) em Salinas das Margaridas. Foi muito emocionante, haja coração.

Tio Edinho foi escolhido para fazer o sorteio, com direito a microfone, palco, acompanhamento musical e uma torcida boa demais, afinal, todos queriam ganhar.


Primeiro veio o discurso e a lembrança de vovó Amélia. Depois o sorteio propriamente dito.
O escolhido com acompanhamento musical de prima

Pegando o próximo sorteado
As três finalistas. Juro que não teve mutreta, fiquei em segundo


Gente, nesta hora que Maju doa a colcha a Charles todos choraram
O resultado

 Infelizmente nem todos estavam presente. Tia Noe, Joana, Nana, Aninha não puderam ir, mas foram bem representada.
O sorteio foi o seguinte, cada um que fosse chamado pegava outro nome no copinho e chamava, só o último nome seria sorteado, os demais seriam eliminados. Não sei por sorte ou azar o primeiro nome foi o de Tia Noe (a que mais trabalhou - fez o nome em crochê de todos os participantes na faixa marrom), a primeira eliminada. Depois não me lembro mais a ordem, só as três últimas que está registrado, se alguém lembrar é só falar.
No final a ganhadora foi  Maju que doou a Charles. A cocha, como patrimônio familiar, está na casa de tio Charles em Itaparica, um local que todos frequentam sempre.

São tantas histórias que ficaria um texto imenso e aí ninguém iria ler, termino por aqui e deixo que todos colaborem com os comentários.





O Evento do Ano: Casamento de Vanessa e Pier

  Desde o momento da entrada de Vanessa com Luciano me lembrei do casamento de Ivana, como ela estava vestida de noiva, tão bonita quanto a ...