A minha lembrança mais remota de uma Copa do Mundo é a de 1962, eu tinha 10 anos e me lembro apenas do povo comemorando que o Brasil era bi-campeão. Os carros passavam buzinando e as pessoas gritando de alegria.
A seguinte, em 1966, me recordo de uma reunião na varanda da minha casa em Conquista, a gente ouvindo o jogo pelo rádio. Claro que não entendiamos nada, isso é, somente o grito de GOL, e tínhamos de esperar um pouco para saber de quem era. A Copa foi rápida para o Brasil, insignificante, saiu logo na primeira fase.
Então veio 1970 já morava em Salvador, e foi a primeira vez que acompanhamos a Copa pela TV. Era mês de junho e morávamos em Ondina, e nessa época a TV Aratu , que transmitia Globo, montava no Parque de Exposições, hoje Universidade, o Arraiá da Capitá, com várias atrações e barracas com cerveja e comidas. Nesse ano houve o lançamento de duas cervejas: Carlsberg e Chopp 70. Clima de festa!.. Brasil ganhou todos os jogos! show de bola! só alegria, a comemoração era sempre com cerveja nas barracas lotadas de gente, e no final de cada dia de jogo do Brasil, eu tinha que tomar um copo de leite para curar minha ressaca. Terminamos aquela copa com o TRI e encantados com Pelé, Jairzinho, Tostão, Gerson, Rivelino entre outros...
Mais 4 anos, que demoravam muito para passar: 1974 copa na Alemanha. Torcida organizada, cada dia em uma casa, supertições, bolões, etc...No embalo do TRI, queríamos o TETRA que nāo veio.
1978 - Copa na Argentina - essa foi a menos empolgante de todas as copas. A seleção de Coutinho. O Brasil saiu invicto no terceiro lugar, insosso e inodoro. Uma decepção.
Finalmente a seleção de Telê Santana em 1982: Zico, Sócrates, Falcão, Junior, considerada uma das melhores que o pais ja levou para a Copa do Mundo. O esquema nosso era o mesmo, cada dia o jogo na casa de uma pessoa, muita cerveja, muita farra, muita alegria. Na primeira fase a animação foi crescendo a cada vitória do Brasil. Depois de classificados tivemos que enfrentar a Argentina, nossa grande rival, e saímos vitoriosos. Então perdi o medo, tinha certeza absoluta que a Copa estava ganha. O próximo jogo contra a Italia, que nāo fora bem na primeira fase, éramos super favoritos, nossa torcida se reuniu na Graça, na casa de tia Nicacia. Fui trabalhar pela manhã e voltei direto para lá, sem a minha calça verde da sorte. Antes de começar o jogo ja estávamos bebendo, e quando terminou com a nossa derrota eu estava embriagada e incrédula. Passei tão mal que tive que tomar Plasil, medicado por Dr Valá. A noite quando melhorei da bebedeira, fui ver as resenhas na TV, pois o clima de decepção era geral. O repórter dizia "está todo mundo se sentindo culpado, um porque nāo vestiu a camisa da sorte, outro porque nāo sentou no mesmo lugar, etc..", eu realmente estava assim por causa da minha calça verde, usada em todos os jogos anteriores ...
E no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte, eu nāo me conformava. A Copa continuava e a Italia foi campeã, e para mim parecia que tinha acontecido um desastre.
Ate chegou o momento de eu parar, analisar a situação, pensar racionalmente, jogo é jogo: ganha-se, empata-se e perde-se. E eu sofrendo por causa de futebol!!!..
Pensei em times, pior ainda, as pessoas torcem, sofrem, brigam e choram por uma bandeira!.. que loucura!...
Futebol é paixão! Racionalizei... acabou a paixão!...
Dai em diante não teve Tetra, nem Penta, nem derrota de 7x1 que me abalasse.