sábado, abril 20, 2019


TIO FLORI
Sempre fui apaixonada por meus tios, mesmo porque me considero talvez uma tia frustrada. Tenho dois sobrinhos, filhos de Lula, que pouco tive contato, e seis outros, por parte de Ademário que, apesar de estar sempre juntos, nunca fomos íntimos o bastante por diferentes situações.
Esta introdução, talvez desnecessária para alguns, justifica o fato de meu post para falar de tio Flori (Florival da Costa Barreto). Marido de tia Noemi, pai de Isabel, hoje com mais de 90 anos, tio Flori é aquele que nunca procurou os holofotes. Em que pese talvez sua timidez, ou provavelmente pouco valor à exposição, tio Flori foi prefeito de Caatiba, Bahia (1977-1982).
Minhas primeiras lembranças de tio Flori vêm da infância: um homem calado e sempre com um olhar talvez crítico, mas conhecedor de cada situação. Naquela época, dizia-se que tio Flori era leitor costumaz das enciclopédias Barsa, Britânica e Larouse (tudo isto antes de aparece a Conhecer!).
Lembro-me de um pé de figo no quintal da casa cujos frutos eram cuidadosamente protegidos dos bicos dos pássaros com um saco de algodão pela arte de tio Flori. Não tenho certeza se estas figueiras produziram bons figos, mas que estas árvores eram bem tratadas, lá isto eram.
Em abril de 1961 o episódio da invasão baia dos Porcos nos alertou para eminência de uma terceira guerra mundial. Confesso que estava apavorada. Não me recordo como estavam o ânimo de minhas primas e amigas - principalmente Isabel, Bete e Vaneide – mas tio Flori nos relatou, didaticamente, a situação e que me permitiu dormi como um anjo sem esperar um ataque americano ou russo no meu pedaço. Obrigada, tio!
Quando eu estava entre os 10 e 13 anos, minha mãe, Amélia, considerou que devíamos ter um suporte para manejar melhor o nosso idioma. Propôs a tio Flori que fosse nosso professor. Não me recordo exatamente de meus colegas deste do curso (Isabel? Duda? Lula? Bete?), mas aprendi que nosso idioma era fundamentado no latim e no grego e assim poderia entender porque usar s ou z, ç ou ss.
No dia a dia, aprendi, com os exemplos praticados por tio Flori, a analisar os fatos, sem paixões e preconceitos, sem importar com as opiniões alheias, e, confesso que isto faz muita diferença em qualquer avaliação que participo profissionalmente.
Tio Flori hoje tem mais de 90 anos, com alguma dificuldade para ler e, é claro, já não anda como um adolescente. Mas, ainda tem muito que ensinar fundamentado em todo seu precioso conhecimento.
O que posso comentar, é meu reconhecimento e agradecimento a uma pessoa que me ajudou a ser mais independente de pensamento e ação.


3 comentários:

Bel B disse...

Adorei o texto, Célia. vamos ler para ele... Não me lembro da ameaça da 3a.Guerra... rs... mas lembro do curso de português.

eleusa disse...

Excelente texto Célia e muito bem lembrado de falar sobre tio Flori. Vocês tiveram mais tempo próximo a ele, pois fui para Conquista com 8 anos e pra Salvador com 13. O meu contato maior era nas férias. Mas o que me marcou muito foi quando fui para Conquista e adorava brincar com Bel e Iris, mesmo porquê eramos vizinhas, e a noite apontava e ele chegava e dizia: as duas pra cama. Não adiantava pedir para ficar mais um pouco, pq o horário de dormir não tinha negociação, era sagrado. Grande homem, inteligente, devorador de livros históricos e sempre nos dando lição de vida.

Hamilton Ipê disse...

Tio Flori, grande figura que tenho o maior apreço e consideração. Matreiro e caladão, sempre com um sorriso na face, porém intenso e perspicaz como poucos. Seu trunfo principal é sua inteligência e profundo conhecimento, mas por ser modesto ao extremo poucos sabem desses magníficos valores.
Tenho muitas recordações de Tio Flori, no entanto a que mais me marcou foi o seguinte episódio:
Na manhã do dia da última prova oral, de inglês, para colar grau no 4º. Ano do Ginásio do Padre Palmeira, em 1959, eu e os demais colegas bebemos cachaça diretamente do litro, que não foi tanta assim, mas deu para embebedarmos. Todos passaram a escrever de batom no blusão um do outro, aquilo que pretendia ser no futuro. No meu blusão, em letras garrafais, escreveram “CANTOR”. Isto porque de quando em quando tentava a carreira na rádio de Conquista ou em auditórios da cidade.
Dali, fomos à casa da Paraninfa Lia Rocha (se não me falha a memória) e lá, alguém colocou um “solidéu” em minha cabeça, e com ele fui para casa.
Completamente tonto, mas me lembro até hoje. Em busca de “conivência e apoio” caso a coisa engrossasse, passei antes na casa dos meus queridos tios Noemi e Flori, para buscar apoio. Estavam almoçando, e ao me verem, espantados e horrorizados, caíram na gargalhada!!!!!
É para não esquecer jamais!
Hamilton Ipê

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