sexta-feira, outubro 11, 2019

Iniciações na fazenda..

O sexo sempre foi assunto obscuro na família brasileira e na nossa então nem se fala, mas para mim que vivi no ambiente rural, sexo fazia parte do dia a dia e as descobertas aconteciam naturalmente. Na fazenda a coisa começa cedo vendo os animais fazendo sexo. O pato, a galinha, o cachorro, o boi, o sapo, o cavalo e até lagartixa transava na nossa frente. Depois de ver tanto fudistório ao nosso redor chega uma hora que alguém levanta a questão – E homem e mulher também cruza? – Oxe, é o que mais faz!, alguém respondia, mas como ninguém tinha visto um macho e uma fêmea da raça humana cruzando no pasto então não faziam parte de nossos assuntos diários. O universo rural daquela época era totalmente desconectado da TV e tinha uma relação muito estreita com a cidade, havia também um certo moralismo para se falar de sexo com as crianças, então nossa realidade “pornográfica” se resumia a assistir sexo entre os animais. Para nossa alegria, de vez em quando, tínhamos que levar uma égua para cruzar com o cavalo do vizinho e era tão emocionante quanto o UFC (poucos anos depois este seria um dos meus programas favoritos no Brejão com Quitão, velhos tempos). Uns 10 meninos acompanhavam a empreitada para a fazenda de Solom. Durante a caminhada de 3 km os meninos iam narrando o desempenho do cavalo com detalhes. Nessa época como todos eram mais ou menos da mesma idade entre 6 a 11 anos ninguém sabia ao certo o que era o sexo – a palavra em si, sabíamos o que era cruzá, sabíamos de cor o que era o ato animal. Lembro que após algumas sessões assistindo os equinos, Leo decidiu trocar o pinto dele pelo do cavalo, ía perguntar a Tio Eliezer se ele fazia a cirurgia, mas o pessoal da fazenda desaconselhou, era melhor não colocar, pois onde que ele ía guardar “aquilo” daquele tamanho? O cavalo puxava para dentro das ancas e nós que somos humanos não temos espaço, se subir para a barriga vai ficar parecendo que tem hérnia, se guardar nas calças a polícia pode parar e perguntar o que é e Leo falava sem  cerimônia  – Eu ia dizer que era meu pau, o nativo respondia – pois ele ia te prender, porque não pode falar palavrão para polícia, meu pai completava dizendo que no dia que ele colocasse as mulheres da região iam todas fugir (um nativo falou meio baixo.. – Ou não né seu Edim?) , - Mas é para enfiar na égua!, dizia Leo, - Para nascer um filho com cara de cavalo!?, falou seu Edinho e o nativo completou logo depois, - Mas também pode nascer com a cabeça de Leo e o corpo de cavalo Seu Edim, meu pai respondeu, - Piorou! Vai cagar tudo e dar coice dentro de casa, quero não, isso não dá certo! enfim, depois dessa argumentação Leo desistiu do implante. Os mais curiosos como eu ficavam imaginando o porquê da atração pelo sexo, como que um filhote era feito a partir daquela “briga”, porque o cavalo tinha que enfiar o pinto (to sendo educado) na égua?, o que acontecia lá dentro da égua?. Eram questões que as respostas ainda estavam a caminho. Nesse tempo eu ainda não gostava de menina, apesar de gostar de ver peito, trocava a companhia de uma garota por qualquer aventura irrelevante, na verdade tem uma fase que as garotas são nulas, é como se fosse um menino cheio de frescura que não pode tirar a roupa na frente da gente e não pode brincar de medir o pau na varanda, um trem chato. É preciso passar um tempo, que passa rápido, para ver que a mulher é um trem bom, mas antes disso, dê cá meu skate. 

Antes da puberdade o cruzamento animal, para nóis da roça, era uma coisa tão natural e divertida que brincávamos com isso o tempo todo. Era muito comum narrarmos o coito animal com gritos de – ACUNNNNNHA! E imitações do canto do jegue ao redor de cachorros, patos e principalmente cavalos, às vezes os animais corriam de tanto grito e algazarra que se fazia em volta. Nesse período nossas conversas giravam em torno dos órgãos sexuais dos cavalos e bois, a respeito do tamanho e flexibilidade de cada um. Nesse ínterim o Leo mais uma vez, com 6-7 anos, encomendou uma buceta de vaca e o açougueiro fez questão de levar. Recebemos a buceta com desdém, um bucetão esparramado em uma tampa de panela, alguém segurou pelas pontas e mostrou um buraco, nós olhamos meio descrentes e vimos o açougueiro do outro lado, não fez muito sentido, podíamos vê-lo sem a buceta da vaca, a buceta atrapalhava de ver o outro lado.., passamos um tempo achando que buceta era coisa de vaca e menina tinha xibiu... vou pular essa parte. Olhamos para aquilo e pensamos, - Devíamos ter pedido os peitos... as brincadeiras continuaram até ao final de uma tentativa sem sucesso do açougueiro enfiar a cabeça, de cima, pela buceta, tirou o chapéu e não deu certo, aí decidimos levar a buceta pendurada em uma vara de pescar para ver a reação do boi, ele cheirou e correu.  Jogamos para o velho Cacique, antigo cachorro da fazenda que tem história, Cacique comeu a buceta em duas bocadas. Voltamos meio impressionados com Cacique, Leo – Painho! Cacique comeu a buceta! – E lambeu os beiços? – Lambeu! – Ai eu vi! isso sim que é comedor de buceta retado, não é uns frouxo que eu conheço que ficam aí tomando garrafada do mato... , falava olhando para Zé Rodrigues e mais uns quatro na roda de papo, não entendemos a piada, mas todos riram muito, inclusive nós.

Na beira da minha puberdade, mas ainda antes disso, eis que tio Arlindo aparece com uma pilha de umas 200 revistas suecas pornô, me lembro que ele separou a metade e deu para um rapaz a outra metade seguiu viagem. Eu tentei ver, mas não deixaram, não era coisa de menino da nossa idade. Não me lembro quem as recebeu primeiro, mas chegou ao conhecimento de Seu Edinho que fez uma pesquisa rápida entre os jovens e perguntou a idade de alguns rapazes da fazenda, alguém falou, - Fernando tem 16!, Fernando era filho de Joaquim, vizinho de fazenda, -Chama ele aí, o pessoal olhou para Fernando e o chamou movimentando os braços tipo, “CORRE!, que tem coisa para tu aqui!”, Fernando veio correndo desbandeirado com a boca aberta e sorriso no rosto achando que ia ganhar um jaleco, ao chegar recebeu uma pilha de “livro” e entristeceu rapidamente, mas quando abriu a primeira revista abriu um sorriso diferente e a garotada percebeu.  Alguém falou, - É revista de putaria!, gravamos o nome putaria. A garotada de 10 anos acompanhava milimetricamente o manuseio da pilha de revistas, o sorriso de quem as via, os homens falando –Eita porra!, alguns apontando imagens e evitando nos mostrar, de relance vi uma mulher sem sutiã numa capa, minha sobrancelha subiu. No final dessa sessão Fernando catou as revistas e seguiu para a casa, acompanhamos cada passo e ficamos pensando, o que será que tinha naquelas revistas?. Na saída ele deu uma piscada para Tóin de Vardo e eu percebi. Eu não era muito próximo de Fernando, mas ele era próximo de Tóin de Vardo. No mesmo dia conversei com Tóin e pedi a ele que falasse com Fernando para nos mostrar as revistas, ele disse, ok, amanhã vou lá. Dia seguinte já tinha uma comitiva secreta formada de 10 pivetes, fomos acompanhando Tóin “para tomar banho no rio Preto..” saímos em caminhada Eu, Leo, Garrincha, Tóin de Vardo, Gabriel, Jão de Deus, Negão, Paco, Cáte e Pinduca. Os mais novos Leo, Jão, Paco, Cáte e Pinduca tinham entre 6 e 8 anos, estavam indo mais pela festa. Essa tropa dos mais novos parecia a turma da “caixa baixa” do filme Cidade de Deus, não havia canto que fóssemos que essas pragas estavam atrás. Na chegava Tóin perguntou para Fernando – Tem jaca no Rio Preto?!, era a senha, Fernando disse - Teeeeeem! (olhando de canto de olho para o pai Joaquim), tá no galho de baixo, e fez um movimento com a mão e veio caminhando em nossa direção, descemos para o Rio em comitiva atravessando uma roça de Andu. O velho Joaquim olhando de longe aquele bando de menino de canto de olho, não podíamos vacilar na caminhada para o Rio (meses depois o velho Joaquim nos denunciou). Na chegada, Tóin sobe no pé de jaca e lá estavam as benditas, cada um pegou uma e sentou atrás de algumas moitas para ninguém nos ver caso passasse pela estrada. No primeiro momento os meninos que viram as primeiras cenas tentaram comentar em voz alta e Tóin avisou logo, - Fala baixo que o véi Joaquim tá de olho. Então passamos a folear cochichando ou calados olhando como se lessem,  íamos repassando as revistas até ver todas, tinha revista de todos os gostos, sexo heterossexual, sexo animais e com travestis, não tinha homossexual, mas era bem melhor que a Hermes com a mulheres só de calcinha. Sexo com animais não nos era novidade, passamos rápido, com travestis achamos que era mentira e não chamou atenção. Ficamos vidrados na falta de vergonha das moças sem roupa na frente dos homens, esperançosos de ver uma mulher nua ao vivo um dia. Não tinha masturbação entre a turma, o pinto de alguns ficava duro, mas ninguém sabia o que fazer ao certo, ainda estávamos associando a nudez com a excitação, falou-se que quem não arrumasse uma mulher quando crescer tinha que comer uma jega para quebrar o cabaço, isso assustava, pois vai que ela dava um coice no saco!. – Mas né para agora não!,acalmava Fernando – Cês ainda tem tempo demais, é lá pros 20 anos! - Ufa, pensei, nessa hora olhei para o lado e alguns meninos da “caixa baixa” simulando sexo com uma jaca, – Tamo comendo jaca! ô jaca boa danada!, ajudava a disfarçar e todos riam. Enquanto o assunto desviava continuávamos foleando as revistas, tentando ainda entender o porquê que aquilo tinha que ser escondido, qual era a real graça de estar nu com mulheres sem pegar nos peitos. A sensação para nós não foi muito diferente do teatro ao vivo e a cores do cavalo com a égua, mas o fato de saber que existiam mulheres no mundo que ficavam nuas na frente de homens isso nos empolgava. Em dado momento perguntamos ao Fernando o que era putaria, Fernando respondeu, - Essas mulher aqui é tudo puta, outro pergunta, - O que é puta? – É uma mulher que o home paga para fudê, - Oxe, paga? – Fudê é o mesmo que cruzá? –É!, - Eu que não pago, disse Nego Jão, – Apois, em Jaguaquara tem um bando, - Oxe...é mermo? , nessa hora que se falou em dinheiro alguns perguntaram, - Tem foto do dinheiro?, passa folha para lá e para cá, - Tem não, vai ver pagaram antes de tirar a foto né? – Deve ser... para não roubar a moça, disse Gabriel. Nessa época o dinheiro era, na Fazenda, o centro da discussão, entre os meninos não se falava de mulher com intuito sexual, as mulheres de nossas vidas eram nossas mães que nos batiam e nossas irmãs que nos denunciavam, os que eram casados diziam que a mulher era o satanás e tinham uma jega de estimação, ou seja, cruzar com mulheres? até aquele momento era incógnita. As revistas de Tio Arlindo nos mostraram esse novo mundo, abrimos nossas mentes e voltamos para a Fazenda mais calados que na ida, descobrir a forma como homens e mulheres cruzavam foi uma novidade, ainda tínhamos muitas perguntas sobre as imagens, mas mesmo assim muito entusiasmados para voltar.

Na volta para fazenda fomos descobertos logo na chegada. Verríssimo já foi dizendo – Foram na casa de Fernando ver revista de putaria não foi seus muleque? Gabriel, que era meio tonto da cabeça respondeu – Foi !! , mas a gente não viu a foto do dinheiro não!!

Caímos na gargalhada.

O point das revistas ganhou novos visitantes, de outras fazendas e até da cidade. Soube que Fernando vendeu algumas revistas e comprou algo para ele, acho que foi uma porca. Muitos anos depois, creio que mais de 10, ainda vi algumas folhas rodando na casa de vizinhos da região e que eram guardadas escondidas no telhado, uma das minhas visitas foi na casa de Zoró, me disse que quando tava desanimado dava umas olhada e logo melhorava. 

Chegamos a herdar algumas quando fomos morar em Itaquara, guardamos no telhado do fundo da casa, numa tarde qualquer meu pai achou e veio com elas dentro das calças para nos mostrar como se fosse um tesouro perdido, ele foleava com cara de novidade e nós olhando para as revistas com a intimidade de quem já estava casado com aquelas mulheres há alguns anos, acho que ele ainda não sabe dessa..rs, ele nos deu sem saber que as estava devolvendo, guardamos no mesmo lugar. Quando fui para Salvador ligava para Leo as vezes e perguntava se as revistas ainda estavam guardadas, era parte de nossa história.

Enfim,
Em nome daquela meninada do Rio Preto,

Obrigado tio Arlindo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Vixe!

O PT invadiu a Caravana!

Anete disse...

Fantástico Kim, adoro suas histórias.
Oxi, não entendi o Anônimo (Fernando?). O PT?????

yes disse...

Obrigado Netinha e Anonimo, quando o PT saiu do Caravana?

Bel B disse...

E o PT já esteve no Caravana?... não me lembro.
O Anônimo não é Fernando.

Em tempo, ótimo texto Cristiano. Muitas risadas.

eleusa disse...

Bom, deixando o PT de lado, muito sabem que o começo da minha infância foi na fazenda. E todos esses relatos vi in loco e tb não conseguia fazer a diferença dos animais para os humanos. Certa feita vi, como já tinha visto várias vezes, o boi em cima da vaca. De repente me veio um pensamento "pecaminoso", será que o homem faz isso com a mulher? Pronto!!!! Foi o começo de uma reação de culpas por ter pensando uma coisa dessa e desse pensamento estava certa que Deus iria me castigar. E carreguei essa culpa do meu pensamento por vários anos.
Crianças !!!!!!
Daquela época !!!!!

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