quarta-feira, dezembro 02, 2020

Edson Andrade Barreto (1943-2020)









TEXTO DE NANINHA 

O motivo de estamos aqui, agora e tristes....

Mas também o motivo que nos une e de alegria....
Devemos isso a seu Edinho.....que plantou sempre a paz, a amizade.
Ouvimos dele sempre a palavra força e coragem..... não para ir para guerra.... mas para buscar a paz.....

Esses anos todos de vida escolheu a cidade de Itaquera a região do riacho seco para viver ....até morrer.. dizia que terra de bons homens, como Seu Pita, seu Lito, seu Jerônimo, seu Lu, seu Erisvaldo, seu Vadinho.... Astor e tantos outros.... me atentei aos que convivi pois são muitos...

O campo lhe trouxe o sustento e acredita que o homem do campo e a máquina que movem a cidade, o Brasil e o mundo, por isso agricultores...coragem e força

Nos anos de vereador neste casa  sempre teve a honra de representar o povo e ser sua voz, trouxe conhecimento, adquiriu, aprendeu e ensinou.....
O conhecimento só se torna grande, se passado para o outro.....

O melhor dos anfitriões.. . Mesa posta..... café na garrafa... gostava na fartura.....
Assim durantes esses anos...todos que por lá passaram.....tinham uma prosa...um conselho....um café, um pão com mortadela.....

Devemos contar e recontar a suas histórias....  Devemos ensinar o que aprendemos.......devemos cultivar o bem.
Foi o pai...o tio...o amigo..... o filósofo......
Ficou o exemplo
Seu Edinho, meu pai, sai da vida pra entrar na história.

Edinho com Leo e Cristiano

Texto de Célia

Morei em São Paulo com meus irmãos (e Dona) de 1968 a 1975, quando retornei à Bahia, formada em engenharia civil e casada com Ademário.

Durante este período, queridas pessoas, que vinham a São Paulo geralmente para compras ou exames médicos, hospedavam em nosso apartamento. Não havia whatsapp e telefone existia no posto telefônico e era usado para emergências e datas especiais – dia dos pais, dias das mães e aniversários, natal, etc. Os hóspedes sempre proporcionavam conversas maravilhosas, além das notícias frescas da família e da terra.

Tio Edinho aparecia praticamente a cada 6 meses para comprar charque e bacalhau e, tenho cá comigo, para dar um pouco de atenção aos sobrinhos distantes. Era uma festa todo dia: ia para a escola ansiosa pela chegada da noite para saber das novidades do dia, acompanhadas com o humor e o impressionante tino de observação de tio Edinho das coisas e hábitos paulistanos.

Quando estava na faculdade, tio Edinho ia mais amiúde, pois estava de namoro com Cecília, a irmã de Roberto Falcão, amigo de Lula. Aí a farra já envolvia os sobrinhos e os amigos, quase todos já se sentindo dentro da família: Rodolfo, Abraham e Moisés, entre outros.

Certa noite, saímos para tomar uma biritas. Estávamos de carona com Cecília e, para retornar, tio Edinho fez questão que Cecília ficasse na sua casa e nós iríamos de ônibus para a nossa. Saímos andando pela madrugada, conversando e dando muita risada de tudo, principalmente pelas observações constantes de Tio Edinho a tudo que via. Andando, o dia amanhecendo, chegamos ao Parque de Ibirapuera, onde há um enorme monumento dos Bandeirantes. Não resistimos, subimos no monumento. Aí, aparece a polícia, muito bem armada, nos manda descer, pede nossos documentos e perguntam: “onde vocês colocaram a bomba”? Quase desmaiamos ou quase fomos presos... Finalmente, depois de nos revistar e confirmar que não passávamos de uns tolos deslocados desta época um tanto conturbada politicamente, com sequestros e bombas. Ao chegar a casa, Amélia já estava acordada nos esperando. Tio Edinho contou nossa aventura e, é claro, caladinhos, recebemos o valoroso sermão de Amélia.

Outra noite e em outra visita, saímos para tomar cerveja. Estava um pouco frio, mas não importava, tínhamos os casacos e os casos de Edinho para aquecer. Depois de muita conversa e cerveja, saímos do bar e, ao chegar ao carro, tio Edinho e Abraham chegaram abraçados com uma cadeira de madeira dobrável entre eles. Não sei como coube, mas é certo que entramos todos no meu fuscão com a cadeira. Era madrugada e ao chegar a casa, deixamos a cadeira armada na sala e fomos direto para a cama. Na manhã seguinte, saímos todos cedo para a escola. Quando retornei, estava minha mãe, que coincidentemente estava conosco, sentada com seu inseparável crochê, conversando com tio Edinho. Amélia estava muito brava, dando um belo sermão em Edinho, acusando-o de corruptor de menores por “roubar” a cadeira do bar e exigia que ele retornasse para devolver. Como sempre, o sermão de Amélia não comoveu Edinho, muito pelo contrário, ele argumentou e convenceu a Amélia do valor “histórico e sentimental” da cadeira “roubada”. A cadeira ficou comigo até quando nos mudamos de Vilas para os Estados Unidos, quando distribui a maioria dos nossos móveis pela família. Não sei se alguém ficou com esta cadeira. O certo é que ela, realmente, teve o valor “histórico e sentimental” preconizado por Tio Edinho.

Itaquara, está órfã..


A partida de Edinho Barreto deixará uma lacuna que só um tempo longo poderá aliviar.
Homem cortês, solícito e de uma generosidade ímpar, "Seu" Edinho, irradiava sabedoria e lucidez de onde morava, em sua fazenda Paris. 

Na sua discrição, recebia a todos que o procurassem, sem distinção nenhuma. Conseguia transpor as conveniências do homem comum, e tratava em igual medida, de um magistrado a um homem simples, sem letras. Não havia diferenças para ele, entre um agricultor humilde e um grande fazendeiro, quem o visitasse, sentava na mesma cadeira, recebia o mesmo tratamento, a mesma atenção.

Era, como ele dizia, "na cozinha da casa que devemos receber os amigos!" E era assim mesmo, era de lá que ele, literalmente, destilava a sua sabedoria, sua cultura, seus conselhos. A sua presença de espírito, forte e acolhedora, era visível no seu sorriso, até mesmo em uma galhofa, ou piada.

Seu Edinho não tinha convenções, quem estivesse próximo a ele, sentia, na pureza dos seus sentimentos, a fluidez que emanava do seu caráter. Autêntico nas suas ponderações, não reclamava e nem recriminava a ninguém, e, se o fizesse, era por alguma importância, sempre para o bem...
Leitor voraz, de décadas, era raro citar uma obra clássica que ele não tivesse lido.

Falasse de Cervantes, Edinho Barreto emendava, como resposta, um trecho completo da obra.

Falasse de Tolstoi, Edinho Barreto descrevia um cenário russo do livro.

Falasse dos pensadores, ele desdobrava, dos Pré Socráticos aos contemporâneos.

Quem passasse, 01 hora apenas, na presença desse grande homem que se foi, saia de lá com o espírito renovado, com mais coragem para a vida.

E por aí ia... não tinha ego, na acepção da vaidade da palavra, ao contrário: era o oposto disso. Como em certa história quando estava diante de uma certa magistrada, que, por alguma razão, o tratou rispidamente e com grosserias, perguntando o que ele queria, ao que ele respondeu com calma e brandura, fazendo a "dotôra" ficar desconcertada...

Pois era assim, A placidez de seu jeito, sereno, ocultava um gigante!

Edinho Barreto, meu amigo de vários anos, foi, seguramente, um dos grandes homens que conheci nessa minha jornada terrena.

Um grande abraço, saudoso amigo...

(Texto do amigo Antônio Patrício)

TEXTO DE LILIAN





2 comentários:

Bel B disse...

Célia, lembrei que numas férias em SP, encontrei Edinho no apartamento de vocês, e saímos andando pelas ruas a noite, já bem tarde. De repente Edinho gritou: Cadê o pão?.. Que pão?.. era uma padaria fechada aquela hora, mas tinha escrito na porta: pão quentinho a qualquer hora.
Bons tempos, quando andávamos a noite sem medo de ser assaltados... Mas podíamos ser confundidos como subversivos!...

CB disse...

Célia, ele me contou esse caso da cadeira, não sei se foi o mesmo caso, me contou que depois de uma noitada bebendo levaram a cadeira de um restaurante famoso, se me lembro bem ele me falou que foi do Fasano, ele não lembrava com quem estava a cadeira e me pediu que se achasse que fosse devolver e pedisse desculpas pelo atraso, falou dando umas curtas gargalhadas. - Cris, chega lá e fala:
"moço meu pai pegou essa cadeira por engano e levou para casa, ele ia devolver no dia seguinte, só que ele mora na Bahia e não deu tempo voltar e ele procurou o endereço do restaurante na cadeira e não tinha, se vocês tivessem anotado pelo menos o telefone na cadeira ele tinha ligado, como não tinha nenhuma informação eu passei todos esses anos perguntando o telefone, o endereço de vocês para pessoas, só descobri recentemente com a internet.." e recomendou outra emenda gargalhando " o povo da Bahia não vem muito nesse restaurante, o pessoal de lá como mais acarajé.."

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