domingo, abril 19, 2020

O fim do pensamento cartesiano, o messianismo e o início da nova Idade Media.


Vou logo me entregar e lhe digo caro leitor, tenho mais perguntas que respostas e ao contrário do que vejo nas redes sociais em que cada um parece ter mais certeza que outro, eu estou afundado em dúvidas e questionamentos.
No inicio do século 17, numa época em que alguns autores se referem como “O nascimento do pensamento moderno” Francis Bacon e René Descartes defendiam o método inquisitivo responsável com o objetivo de separar o que faz sentido do  que é absurdo. A ideia era combater superstição e conceitos puramente religiosos como explicação natural das coisas. Bacon afirmava, “devoção religiosa cega é um inimigo intratável to pensamento inquisitivo.”
Descartes e o seu “método da dúvida” orientavam:  “ Nunca aceite nada como verdadeiro o qual você tenha certeza que realmente o seja” e prossegue, “ não adicione nada no seu julgamento que não lhe tenha sido apresentado de forma clara e que exclua qualquer tipo de dúvida”. Pois esta forma de pensamento que já era raro antes da pandemia agora foi praticamente extinto. Criou-se uma verdadeira aversão a lógica e ao bom senso, não há mais pensamento crítico, o pensamento atual é se me agrada eu curto e compartilho, se me desagrada nem leio.
Vamos analisar agora o fenômeno messiânico que se instalou no Brasil e o seu conflito em relação a Descartes e Bacon. Criaram-se dois grupos, os seguidores do Messias Lula e o seguidores do Messias Bolsonaro. A palavra messias aqui usada no significado de líder e não como nome próprio. Estes dois grupos de seguidores têm como objetivo final destruir o grupo opositor, neste sentido os mesmos não têm pudor em criar e disseminar qualquer tipo de informação que valorize o seu líder e defenestre o líder opositor, logo entrando em conflito com Francis Bacon, fé cega inimigo do pensamento inquisitivo.
Minha visão pessoal sobre a cloroquina analisando apenas o que recebi através de Facebook, Whatsapp etc, (foram as postagens em relação a este remédio que me fizeram escrever este texto), o grau de irracionalidade é tão grande que eu quis me manifestar.




Lendo as postagens percebi que o Messianismo extrapolou todo e qualquer sentido lógico. As pessoas que defendem a droga o fazem apenas por uma questão política. A minha interpretação foi a seguinte: “O meu líder diz que funciona logo tem que funcionar.” Chegaram ao ponto de postar que os médicos estavam aplicando superdoses da cloroquina para desqualificar a droga, gente isso é muita paranoia!!! Apesar de não ser médico também sou profissional e fiquei a me perguntar o que ou o quanto me faria para que eu ferisse a minha responsabilidade como engenheiro, meu caráter por questões meramente ideológicas. No caso do médico então isso seria um caso de assassinato. Voltando a Descartes “ Nunca aceite nada como verdadeiro o qual você tenha certeza que realmente o seja”, logo como podemos verificar se os médicos estavam agindo realmente contra a ética médica? Será que é razoável pensar que estamos todos agindo a favor do líder A ou do líder B? Será o melhor caminho nos afundarmos no messianismo irracional e voltarmos ao tempo das cruzadas?  Como lhe disse no começo, tenho mais perguntas que respostas.
Em resumo, meu clamor é pelo uso da lógica, se informe através de várias fontes, questione a informação recebida, analise antes de repassar. Vamos caminhar pelo incerto e idolatrar a dúvida ate porque não existem verdades absolutas, o que existem são pessoas que temem a verdade e se refugiam em suas pseudo-verdades.



Para finalizar algumas frases para reflexão:
"Não tenho vergonha de mudar de ideia, porque não tenho vergonha de pensar". Blaise Pascal
"Fanático é alguém que não muda de ideia e não muda de assunto". Wiston Chuchill
"Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro". Jucelino Kubitschek.

O Provocador

10 comentários:

Anônimo disse...

Nota do Provocador: “ o provocador está acima das legendas partidárias, e ainda não sofreu lavagem cerebral pelas forças malignas do Partido Comunista Chinês.”

Mariana disse...

"Imagine que não há países
Não é difícil
Nada por que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz"

Anete disse...

Estou no mesmo barco, não acredito em líder político.
Acho que todo mundo tem o direto de acreditar no que quiser, desde que não force ninguém a pensar ou acreditar igual.
Tenho medo de opinar sobre qualquer assunto, antes evitava só religião, agora política (se antes não opinava, imagine agora?) Não vale a pena se desgastar e perder amigos e familiares que acham que sua opinião é a verdade inquestionável.
A cada dia que passa vejo que nada sei e mesmo com todo o Google do mundo estou ficando mais desinformada.
Gostaria de ter esta certeza, de acreditar cegamente, assim como acreditam na Bíblia e em Deus, acreditam sem questionamentos, se acham superiores porque acreditam, e creia-me às vezes os que acreditam são os piores.
Mais amor no coração, mais solidariedade, mais tolerância é o que o mundo precisa. Ah, precisa tbém de ajuda mútua e não este campo de guerra criado sabe lá por quem.
Não consigo entender porquê alguém fica com raiva da outra porque não torce para o mesmo time. E é isso que está acontecendo hoje, uma segregação muito maior o racismo.

Bel B disse...

“A epidemia de coronavírus é, portanto, um grande teste de cidadania. Nos próximos dias, cada um de nós deve optar por confiar em dados científicos e especialistas em saúde em detrimento de teorias infundadas da conspiração e de políticos que servem a si mesmos.” (Yuval Harari)
É isso aí. Confio mais na ciência que na política. Em relação a polarização política aqui no Brasil, que nem num momento de Pandemia, consegue acalmar, tento me manter afastada dessa confusão e preservar minha saúde mental. Como não confio muito nas nossas instituições, gosto de ver o que está acontecendo no resto do mundo. E tudo que se quer fazer por aqui ao contrário, acho que está errado, independente de quem está propondo.

ALVARO ALFREDO RISSO disse...

LÓGICA?
Bom, tenho evitado em entrar em polêmicas como esta, mas estou atendendo a um pedido.
Há tempos, questionei uma frase neste blog, "não existe verdade, existe versões", pois tinha visto essa mesma frase a respeito de fatos. Os fatos já haviam ocorridos e exauridos e o que existiam eram versões. Como acredito que a verdade é absoluta, fui voto vencido.
Eis que agora, neste artigo, relativiza-se novamente a verdade com um paradoxo: "Vamos caminhar pelo incerto e idolatrar a dúvida até porque não existem verdades absolutas (grifo meu), o que existem são pessoas que temem a verdade e se refugiam em suas pseudo-verdades." Onde está a incongruência? Se existem pessoas que temem a verdade... é porque o autor acredita que ela exista, pois senão as pessoas não a temeriam.

Mas, vamos em frente... Não só a cloroquina está sendo utilizada como arma a favor e contra um dos messias, como uma série de outras medidas, não "científicas ou lógicas", a respeito dos efeitos da quarentena, mas não é o foco aqui.

De fato, acreditar que um médico e um grupo de pesquisadores, e políticos financiadores pratiquem uma pesquisa "científica" (1), aplicando doses muito acima do que é receitada na bula do remédio (2), onde também é alertado o risco de morte(3), parece ter uma motivação messiânica, contra todo o método científico aceito. Nesta pesquisa, não se sabe o que é logica, ou não se consegue, apesar o alto grau de intelectualidade dos envolvidos, entender o que está escrito em uma bula, que certamente foi escrita baseada em experiências anteriores;

Complementando, sugiro ver o início do vídeo, (https://www.youtube.com/watch?v=ucELOWwP8II&feature=em-uploademail) onde o apresentador discute a relativização da verdade, e também o artigo religioso, https://pt.aleteia.org/2019/12/11/e-mentira-que-cada-um-tenha-a-sua-verdade-a-verdade-nao-e-relativa/, de onde tirei o seguinte trecho: "“Esta confusa noção da realidade chamada relativismo está no coração da crise que ameaça a cultura hoje. O relativismo muda o foco da realidade para o sujeito individual. E, dado que as pessoas têm percepções diferentes, a verdade é vista como relativa. Isto, porém, só pode levar a uma ‘ditadura’ de opiniões, porque quando não podemos apoiar-nos na realidade e na razão para provar o nosso argumento, ficamos discutindo e lutando pelo poder, o que resulta em caos e até mesmo em violência”.

Concluindo: Se a verdade é de cada um, O QUE A CIÊNCIA PROCURA?

(1) https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.07.20056424v1.full.pdf
(2) "However, CQ, despite being a safe drug used for more than 70 years for malaria,
might be toxic in the dosages recommended by Chinese authorities (high dosage 10g, for 10
days). Our study raises enough red flags to stop the use of such dosage (12g of CQ in total, for 10 days, due to the presentation of CQ tablets, 150mg, from Farmanguinhos) worldwide in order to avoid more unnecessary deaths."
(3) https://consultaremedios.com.br/difosfato-de-cloroquina/bula
Reações adversas
Doses diárias altas (> 250 mg), resultando em doses cumulativas de mais de 1 g/kg de cloroquina base, podem resultar em retinopatia e ototoxicidade irreversíveis.(...) O envenenamento por cloroquina é extremamente perigoso e a ingestão de uma única dose de 1.500 mg pode ser fatal em poucas horas.

Cristiano Barreto disse...

O provocador é engenheiro...

Betty Boop disse...

Provocador broca.... q orgulho ;-)

Cristiano Barreto disse...

Para falar um pouco da lógica atual precisamos lembrar um pouco do passado. Vivemos um período de aversão petista a qualquer preço, de luta para evitar que essa turma volte ao poder, diria que isso é o DNA da briga política atual. Essa aversão foi construída em cima da esperança de ter um Brasil melhor, chegamos a achar que demos um passo no final de 2010 (os mais desavisados como eu), porém no decorrer da era Dilma a esperança morreu e em cima do corpo nasceu Jair Messias. Para piorar o desamor ao PT fomos descobrindo e associando que além da incompetência esperada surgiram vários capítulos da relação entre um malfeito a tudo que foi feito, conforme dito pelo Palocci. O patrocínios de obras no exterior, educação no ralo e quase fechamento da ABIN tinham razão de ser, uma razão que não tinha aderência da maioria e perdeu. Para resumo da história: a promessa e o legado parecem filhos de famílias diferentes, cansamos desses caras. Bolsonaro não é um Messias, ele é o plano de defesa.

A visão que tenho é semelhante à sua, que em algum momento perdemos a lógica e o bom-senso, mas vejo isso lá atrás não hoje e a explicação pode estar em Bacon “devoção religiosa cega é um inimigo intratável do pensamento inquisitivo” foi o que aconteceu, Lulismo virou religião e contra essa religião é natural que se combata com outra, é nesse ponto que a oposição mais bate, Jair não é Messias, ele é nojento.. dizem as especialistas.

O PT esta pela primeira vez fora do poder em um mundo com Facebook e Whatsapp, não será fácil. Acabei de ver alguns minutos da Live do Haddad e da Manuela, eles alimentam essa polarização como nunca, não ponderam nada, O PCdoB está comemorando o aniversário de Lênin e chamando Bolsonaro de genocida, onde estava nossa lógica quando deixamos essas criaturas procriarem?

Então a pandemia tem seu lado religioso que recai infelizmente na falta de racionalismo dos dois lados, mas tem um detalhe sobre Jair nessa historia. Antes da sua postagem tem uma postagem sobre semente de melancia curando meningite nas crianças. Foram salvas porque apostaram da dúvida, não havia mais em que acreditar e deu certo. Quando a pandemia surgiu como vírus sem cura, Bolsonaro apareceu com essa notícia de que a Cloroquina funcionava – não me interessa entrar no mérito, falou do jeito dele e caberia ao ministro encomendar a análise imediata e definição urgente de um plano de resposta ao chefe e à população, não fez, optou pelo discurso do “precisamos analisar com calma” e fique em casa. Bem, relembrando o ditado “quem tem fome tem pressa” eu acrescento: e quem está prestes a morrer tem o que? Quem está prestes a morrer tem esperança de viver e quer viver, não interessa a fonte e tampouco a dosagem, sim é claro é preciso estabelecer dosagens e um tratamento decente porque sabemos que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, mas o que ocorreu com o Ministro Mandetta foi um tratamento Fabiano à questão da cloroquina. Descartes também pregava que “ciência deveria ser prática e não especulativa”, o racional seria buscar soluções, mas estamos diante do oposto (você tem razão quando fala do fim do cartesianismo, mas não cita a tentativa de fazê-lo renascer).

Com base nisso ecoa em meu consciente quase inconsciente que enquanto houver petistas infelizes, tristes e amargurados é provável que o presidente esteja acertando, sei que isso não é uma verdade absoluta, é apenas o sentimento de que a religião falida está perdendo espaço, restará racionalizar se as decisões que motivaram isso foram boas dentro dos 4 anos que foram dados de direito ou às ruas se necessário, mas por enquanto, sem um representante à altura na oposição (que o meu era Ciro Gomes que se perdeu) oposicionar-se não me leva a nenhum lugar agradável, não temos oposição que caiba à esperança do brasileiro fora de Jair Messias, é por isso que o cartesianismo cede às vezes à falta dele.

Para finalizar,

Cloroquina funciona? Curou Uip.

Celia disse...

Quando trabalhava no CEPED, conheci um italiano que me contou como se dividiram as famílias italianas na segunda guerra mundial por conta das pessoas contra e a favor do fascismo. Ele falava com tristeza do fanatismo da época (ninguém gosta de se enquadrar como fanático, apesar de quase todos nós termos nossa própria dose) que ultrapassava os laços familiares e o comportamento racional: quem nunca matou, matava; quem nunca inventou, inventava; e, todos tinham convicção de sua própria verdade sem considerar a possibilidade de estar enganado. Em tempos normais, vivemos algo assim, porém com poucos danos. No futebol, por exemplo, seu time é sempre o melhor, nunca erra, e os outros são péssimos, ladrões, etc. Em política, a situação é mais grave: quem não reza a cartilha de um lado é traidor e automaticamente descartado, ignorado. Não posso falar nada da situação da época da segunda guerra mundial, mas há muito tempo prefiro, assim como faz Anete, manter minha opinião para mim mesma. Por que tenho que convencer alguém ? Cada qual, principalmente no mundo dos adultos, que siga o seu livre pensar. Entretanto, não resta a dúvida de que todos nós necessitamos da prática do "advogado do diabo": é preciso fazer sua autocrítica e avaliar entre o pensamento moldado para confirmar sua crença e o lado oposto. Lula quase passou, Bolsonaro seguramente vai passar, e o que resta? o Brasil com sequelas, muitas decorrentes de nossa própria intolerância e atitudes.

Celia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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