Além dos problemas que o IDOSO carrega nos ombros e nos pensamentos depois de longos anos vividos, o cara passa a ser alvo de todos os tipos de admoestações e preconceitos nas ruas, lojas, shoppings e o diabo a quatro.
A bem da verdade trata-se de uma minoria que age dessa forma, a maioria é respeitosa, vê o VELHO de forma afável e amigável. Agora, também, acontece nas estradas e rodovias deste imenso país.
Tenho viajado sozinho, é claro, pilotando o meu carango a lugares de média distância, como Aracaju, Maceió, Paulo Afonso, entre outras plagas, e na sexta-feira passada, conclui uma viagem de 1.984 kms a Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus e cidades menores. Sou um motorista recorrentemente disciplinado, no entanto, não é incomum ser parado em postos rodoviários estaduais e federais. Como bem disse o Rei Roberto Carlos, coexistimos com o bem e o mal.
Alguns policiais são mais estratégicos, outros nem tanto. No passado, confrontava aqueles que percebia do segundo grupo quando inferia pelo andar da conversa, que o sujeito queria propina. Já IDOSO, ajo diferente! Fixo o olhar profundamente nos olhos do policial que percebo propineiro, geralmente, se envergonha e libera para a continuidade da viagem. Há já algum tempo, tenho observado que alguns policiais mandam parar o veículo, e não solicitam documentos, não demonstram qualquer insinuação malevolente e só querem conversar... Fazem perguntas aleatórias, mudam para outros assuntos, depois retornam aos questionamentos anteriores, isso tudo em 3 ou 4 minutos.
Um exemplo fica por conta desta última viagem. Em Planalto, próximo a Vitória da Conquista, um PRF todo bonitinho, loiro escandinavo, bem barbeado, usando armação de óculos de segurança de mandatários tupiniquins, ou não, ordenou encostar o carro. Aproximou-se, fez suas anotações de praxe, solicitou a documentação e entrou na seguinte conversa.
- Sim!
-O carro está em seu nome?
-Sim! Está registrado no documento do carro e carteira de motorista , respondi.
- Depende do dia... se é longo fumo mais cigarros... se é curto fumo menos - e complementei sorrindo antes que a conversa descambasse para um lado indesejado, que fumava desde os 16 anos, estou próximo aos 83, portanto, um lucro de 8 anos já que a vida média do brasileiro é de 74 anos.
Sentiu! Creio que fez a pergunta a si mesmo se chegaria onde estou, e mudou de conversa. Eu estava vestido com uma camisa do Bahia, boné também, e com um sorriso amarelo, falou:
Libero logo o senhor se complementar a frase :
- O Bahia o que é que é?
Respondi de supetão:
- O BAHÊA É A MINHA PORRA!
Foi uma risada geral dos policiais que estavam próximos e acenando com a mão mandou seguir adiante. Desta forma insólita descobri que IDOSO também é obrigado a ser humorista, e tratado como tal! Já em casa, fiquei longo tempo refletindo sobre o porquê estou sofrendo essas ações nos últimos tempos. Concluí que os policiais estavam testando as minhas funções cognitivas, como linguagem, orientação, atenção, reflexos entre outras. É evidente que não deixa de ser um cuidado extra da autoridade com o condutor do veículos e terceiros, mas que constrange, é fato. Fica então a dica para quem está chegando lá, especialmente se é viajante solitário.
(Texto de Hamilton Ipê)