quinta-feira, julho 23, 2015

Simplesmente Lau


Laurinda foi uma pessoa marcante na nossa família. Animada, divertida, engraçada, extrovertida, era sempre uma alegria. Dos sobrinhos de Nicácia e Cecília, ela foi, sem dúvida,  a mais próxima da gente.
Tinha fama de extravagante, gastadeira e descontrolada. Para nós acostumados com a economia de Noemi e a disciplina de Amelinha, Lau surpreendia com sua fartura e descontração. Ela contava que banana frita era supercontrolada na casa de Amelinha, o que deixava Lula ansioso, querendo mais. Havia o rigor da disciplina e as crenças que determinadas comidas faziam mal. Uma vez ela fez banana frita para Lula comer até enjoar, sem a presença de Amelinha, claro. E com René, a mesma coisa, com pizza...

Quando éramos estudantes e morávamos nos Barris (eu, Iris, Eleusa, Raminho e René),  época  de pouca grana, eventualmente Lau vinha de Iguaí e era só fartura. Chegava trazendo várias coisas do interior, gostava de cozinhar, fazia pizza. Era uma festa.
Lembro-me que saíamos com Lau de táxi, um luxo, e quando o motorista perguntava por qual caminho queríamos ir, ela respondia: pelo mais longe, meu filho, estou aqui passeando...

Sempre foi gordinha e dizia estar de dieta: “Eu só como folhas e não consigo emagrecer”, era o que não cansava de repetir.   Falava para desconfiarmos de mulher ou marido que emagrecesse de repente...
Presente, participativa, tolerante, respeitava as diferenças, tinha amigos gays quando isto ainda não era comum.

Zé Barreto costumava dizer que Lau paquerou ele quando eram solteiros, mas ela não confirmava, dizia que havia paquerado Dodô.  Viajou comigo e Fernando para Conquista quando fomos nos casar e levou várias merendas para comermos pelo caminho. Sinto que ela não apareça em nenhuma foto do meu casamento. Ainda não existia o celular...

Em Vilas do Atlântico, planejamos um almoço (cardápio: Vaca Atolada) que  seria preparada por Edinho e Fernando, na casa de Gersinho. Na última hora mudaram de ideia  quanto ao local e Lau  me disse que se sentia mais a vontade na minha casa. “ Mais do que a casa de seu filho?”. Ela explicou: “Eu adoro minha nora, mas ela não me deixa fazer nada...”. Comigo, ela me colocava para fora da cozinha e assumia tudo... Eu achava ótimo.

Quando a geração de minha mãe  envelheceu, eu comparava a vida deles: Noemi, Carmélia e Arlindo que tanto malharam Lau por não  fazer economia, como se esta fosse falir e viver na miséria. Qual a diferença?.. E quem viveu melhor?... Lau tinha seu apartamento na Pituba, os filhos bem de vida, ajudou criar os netos. Tinha seu carro e quando parou de dirigir só andava de táxi.  
Mais velha ficou  mais religiosa e só reclamava quando numa farra a gente resolvia cantar hinos da igreja. Ela achava um desrespeito.


Simplesmente Lau... inesquecível. 
Lau, entre Arlindo e Amelinha - Dezembro/1999

P.S. Cheguei a conclusão que Lau não gostava de fotografias. Mexi em todo meu acervo e só encontrei esta foto em que ela aparece.

13 comentários:

Alvaro Risso disse...

Bel, a Lau do seu texto era a que tinha uma loja no Campo Grande?

Anete disse...

Ainda me lembro da farofa de galinha que ela fazia para a gente lanchar na viagem. Realmente, uma pessoa inesquecível. É ela mesmo Álvaro, a loja era dela e do marido Gerson.

Fernando disse...

Lau faz falta,gostaria de fazer um encontro no dia de seu aniversário.

E vamos falar de lau...................

Do primo

Fernando

Igor Matos disse...

Figuraça. Eu morria de dar risada com as histórias que ela contava.

Bete disse...

Curti!
Acho que conheci Lau...
Fico sempre procurando o ícone "curti", para usar nos seus textos...

Anônimo disse...

Realmente,Lau era sensacional. Fui muitas vezes naquela loja!!!! Vane

eleusa disse...

Lau sempre foi uma "figura". Qdo René se formou, vivíamos numa pindaíba danada. Fui até aquele alfaiate Spinelli (Adão não se vestia porque Spinelli não existia") esse era o slogan dele, eu e Raminho compramos o smoking a prestação e surgiu um problema. Faltava a camisa. Eis que chega Lau com um presente.Uma camisa linda e caríssima. Essa era a Lau.

Bel B disse...

Para tirar dúvidas de alguns, Lau faleceu se não me engano em 2008.

Na semana passada acordei um dia pela madrugada, não sei se sonhei alguma coisa, mas passei um bom tempo me lembrando de Lau, por isto escrevi este texto.

Anônimo disse...

Vejam que coincidência!

Há muito tempo, mas muito tempo mesmo, não leio o "Caravana da Alegria", por falta de tempo, com toda a certeza, acreditem! Sou muito atarefado!

Agora, 23 horas, para relaxar a tensão que estou vivenciando neste instante, positiva, é claro, bebendo um Red Label para comemorar algo que não interessa a ninguém, abro o blog. Eis que leio essa maravilhosa crônica escrita por Bel, a "girl" que não envelhece......

Saudades de Lau, de Gerson (não sei por onde anda), de Iris!

Pois bem.

Sábado passado, dia 25 de julho, convidaram-me a um "baba" de velhinhos "idosos se querem ser politicamente corretos" (detesto essa p.), e lá, conheci alguns caras da velha Vitória da Conquista. Digo, conheci. porque não me lembrava de nenhum deles, porém se lembravam de ter sido contemporâneos de René na Escola Normal.

E um sujeito baixinho, disse-me com todas as salivas que saiam da sua boca cheia de whisky, cerveja e churrasco:

- "Fui namorado de Iris, a filha da minha querida professora Noemi".

O nome dele, se não me falha a memória, Lelisdete!!!!!!!!!!!!!!!!

Será história ou estória?

Marcelo/Ler disse...

Bel, quando juntava Lau, Quinha e Nica, era sempre festa. Saudades das três.

Bel B disse...

Bem lembrado Leri. Quinha era também uma figura!...

Unknown disse...

Bel, fiquei emocionada com sua postagem. Lau foi realmente uma pessoa especial na nossa história. Eu não precisava de banana frita, nem de pizza, mas da quebra de rigor, e Lau e Nicácia fizeram isto. Quando criança, Lau chegava lá em casa com muito queijo, requeijão, biscoito, e uma conversa alegre e descontraída. No início da adolescência, passava férias em Iguai, não por causa de Sandra e Gersinho que eram "muito" mais novos que eu (acho que a diferença era de 2 e 4 anos). Ia para Iguai para curtir a companhia de Lau. Quando estávamos em Dias D'Ávila, sem telefone, Lau chegava, no domingo, sempre com lasanha,frango assado ou qualquer outra comida, todos deliciosos. Era uma farra. Tenho muita saudade dela. Gerson hoje está em Vilas, na casa de Gersinho.

Unknown disse...

Foi muito gratificante o tempo que convivemos com Lau, muito querida, valeu Bel .Saudades!

Casamento de Amelinha e Arlindo - 1947

Casamento de Amelinha e Arlindo 1 - Maria Rosa Andrade 2 - Nicácia Andrade 3 - Amelinha Barreto 4 - Arlindo Martins 5 - Cecília Martins 6 - ...