domingo, março 11, 2012

OBTUÁRIO

Olá pessoal! É Alan.

No natal, em conversa com Isabel e com Eleusa, me comprometi a, vez em quando,
escrever algo para postagem no blog. Bem, infelizmente vim falar sobre a morte
prematura de Pedrinho, ocorrida em 2009, num acidente automobilístico lá pelos lados
de Encruzilhada, Ba. Conversei com Saul e Marava, eles também não sabiam. Fiquei
um tanto chocado não só pela notícia em si, mas também pelo fato de eu somente tomar
conhecimento agora, numa conversa com um amigo de Conquista. O impressionante da
vida moderna é como muito de vezes nos afastamos de pessoas que já fomos por demais
próximos, num átimo perdemos simplesmente o contato com nossas raízes de uma
forma quase que imperceptível.

Bem, acredito que a grande maioria dos leitores do Caravana nem sequer ouviram falar
em Pedrinho (Pedro Natanael Pinheiro Lopes, apelidado de Pé de Pão ou simplesmente
Pão). Pedrinho era filho de Zeninha, parente nossa lá pelos lados dos Beijamins (e estas
Beijamins eram cheios de estórias). Pedrinho na infância foi vítima da poliomielite –
paralisia infantil – e foi operado por Renê. O resultado foi pernas de mesmo tamanho;
porém, a direita, não me lembro bem, um tanto disforme, daí o carinhoso apelido “Pé
de Pão”. Zeninha para mim foi uma segunda mãe e Pedrinho um irmão ─ e isto foi uma
longa história.

Eu conheci Pedrinho quando ele estava com aqueles ferros na perna e confesso aquilo
me dava uma certa agonia. Ele era goleiro e morava em frente ao campo Edivaldo
Flores, junto da casa de Dedé. Quando tirou aqueles ferros da perna, foi uma alegria,
e a primeira coisa que Pedrinho foi fazer foi pegar o baba (o qual ele ficava na janela
sempre a admirar) no campo em frente a sua casa. Resultado: quebrou a perna ainda
frágil e isso lhe rendeu mais seis meses de recuperação. Já recuperado, foi morar lá em
casa, e foi uma época de muita alegria.

Eu tinha menos de cinco anos quando meus irmãos (Irlan, Bel e Iris) foram morar em
Salvador, junto com os primos Renê, Raminho e Eleusa. Minha mãe alugou a casa e
ergueu uma outra no quintal, que se ligava com a casa dos meus avós: Manuel Martins
e Cecília. Com o agravamento da saúde deles, Cecília com diabetes e Manuel Martins
com parkinson, Zeninha (e seus filhos Sílvio, Beto, Pedriho e Elizate, que era adotiva)
veio morar conosco.

Pedrinho não era lá muito chegado aos estudos, o que ele gostava mesmo era de
fazenda, de montar a cavalo, de caçar; enfim, do Ribeirão do Largo. Fiquei muito
contente quando ele realizou o sonho de ser fazendeiro. Das histórias mais antigas
que eu me lembro desta época foi logo quando eles mudaram lá para casa. Quando
chegava o anoitecer, o pessoal se reunia na sala para prosear e assistir a novela das
seis e o reporteresso ─ minha vó Cecília gostava de A Moreninha, ela não perdia um
capítulo. Pedrinho sempre era compelido a estudar, por Zeninha, e ficava armado com
livros abertos e lápis em mãos, mas a conversar mais do que qualquer outra coisa.
Certa vez Pedrinho estava concentrado nos estudos, a sala cheia, e não dava um pio.
Zeninha gritou do outro lado ─ Pedrinho, tá estudando o que? Respondeu ─ Ah mãe,
tô estudando história! ─ E porque eu não vejo uma página virar? Bem, Zeninha bafou o
livro de história e o que tinha dentro era um gibi.

Vez em quando, tia Dora e tio Onésimo vinham passar um tempo conosco. Uma certa
vez, tio Onésimo desandou a contar causos de sua vida. Contando os tempos passados,
que tinha passado 10 anos em um canto, 20 em outro e assim por diante. Pedrinho
estava estudando matemática. Quando já pelo fim da estória de tio Onésimo, Pedrinho
mostrou a Beto o resultado dos seus cálculos, e este falou bem alto: tio Onésimo, pelas
contas de Pedrinho o senhor já tem pra mais de 120 anos!
O resultado foi que Pedrinho
foi condenado a ouvir uns não sei quantos minutos de sermão de como respeitar os mais
velhos. E depois ainda teve o segundo tempo com Amelinha.

Bem, Pedrinho se foi, e (no dizer do poeta e cancioneiro Wilson Aragão) fico na estrada pisando a lembrança de tanta vivência. Sentindo a ausência dos meus companheiros.
Que em tempo passados, ... e até nunca mais!


(Texto de Alan)

11 comentários:

Mariana disse...

" Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."

eleusa disse...

Alan, não conheci o Pedrinho naquela época, mas lendo o teu texto me fez relembrar de tantas pessoas queridas que se foram e uma delas foi o Pedrinho que acabei de conhecê-lo.

Betty Boop disse...

Lindo texto!!! Tambem conheci Pedrinho com essa riqueza de descricao!! Texto bom e leve gostoso de ler!!!
Alan, por favor continue postando!!!
Abra'co!!
Que tal uma foto de Daniel?! E um texto falando do pequeno??!! Como eh ser pai de um nenem depois de ter 2 homens criados?
Rose.

Luladasequacao disse...

Alan,

Tambem conheci Pedrinho, e so agora estou sabendo da morte dele. Obrigado pelo seu texto excelente, vou tentar escrever algo tao bom.

Fernando disse...

e por falar em Onésimo, uma vez estávamos na fazenda de Noelia, e saímos para pescar. Eu, Onésimo, Dora e Nica. Eu ajudando Nica a se deslocar e ele ajudando Dora. Eu, imaginando ele atleta, ia falando Vamos Onésimo! vamos Onésimo! .. E ele bem devagar. Então Nica me disse: Oh menino, Onésimo é mais velho do que eu.
Pedrinho tinha razão, ele já tinha 120 anos... Mas com o cabelo pintado de preto....

Robson disse...

Eu também conheci Pedrinho quando ainda morava em Conquista.
Fico sentido com o acontecimento, mas o mais importante agora é trazer suas lembranças como Alan fez tão bem.

Anete disse...

Alan, não conhecia esta sua faceta de escritor, agora que começou estamos aguardando mais "causos".

Zeninha e Dedé, como me lembro delas... Realmente não me lembro de Pedrinho mas devo ter visto ele algumas vezes em algum evento.

Bel B disse...

Gostei muito deste post de Alan. Textos relembrando o passado são muito benvindos neste blog, pois assim vamos registrando nossa história, tanto presente como o passado.

Unknown disse...
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Unknown disse...

Olá Alan! Pedrinho era o meu tio! Irmão de Marcia, minha amada mãe! Com certeza,uma grande trsiteza para todos nós, perde-lo de forma tão triste... confesso já ter ouvido algumas dessas histórias do meu tio, que vc escreveu se forma tão carinhosa... ele me apelidou desse pequena de: boca mole! E assim me chamava até o dia que nos deixou... O apelido era devido a minha fala, o jeito de gosto de falar... e quando o segundo filho dele nasceu, Pedro Daniel e cresceu, adivinha?! Boca mole tb!rs Ele deixou dois lindos meninos ainda crianças! Apaixonados também por cavalos e fazendas... Infelizmente não prevemos o tempo de vida na terra e não sabemos o plano de Deus! O tempo é muito curto para nos afastarmos de quem tanto gostamos... As vezes, a vida acaba fazendo isso! A agradeço de coração sua linda homenagem! Certamente, meu tio fixou muito feliz com suas lembrancas! Um abraço, Daiane Lopes.

Bel B disse...

Daiane,
Legal você ter encontrado nosso blog. Passei para Alan, seu comentário. Por favor, nos dê notícias de Zininha e de Márcia.
bj,
Isabel (irmã de Alan)

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