sábado, outubro 23, 2010

CA

Estava em casa, e resolvi olhar as edições do C.A. quando ainda era um jornal mensal que chegava em casa por correio.
Achei uma reportagem escrita pelo meu pai (Alvaro) onde homenageava a tia Iris, e resolvi postar aqui, lembrando que dia 02/11 ela completaria mais um ano.

Iris


Quando conheci eramos todos jovens. Iris namorava o Gil, a Bel namorava Pango, eu namorava a Eleusa. Era Ondina. O tempo cuidou de fixar os casais mas confinou-nos em cidades diferente. Os contatos escassearam, mas a amizade continuou. Às vezes conseguiamos passar algum tempo juntos, férias, festas, etc. Mas era só. O mais eram lembranças.

Eis que ela pareceu aqui em SP para se tratar. Pudemos então passar horas e horas conversando sobre a vida. Ela ainda nos parecia infinita apesar dos revezes pelos quais passamos. Saúde, analise transacional, controle da mente, fofocas, economia e política, enfim todos os assuntos rolavam.

Ela estava confiante na cura e todos achavamos que era questão de descobrir a causa para que a solução fosse dada. Nesse intervalo surgiu o curso de "mind control" que a Eleusa e a Melina iriam fazer. Eu e a Daniela já haviamos feito. Conversando com ela sobre o curso, ela achou que para a mudança de vida que ela ia fazer, esse curso era importante. Era! A sua postura mudou. Ela viu que já estava programando o subconsciente para a morte. Guinou 180 graus sua vida. Passou a assumir suas decisões. Não pediu mais que a Eleusa ligasse para os médicos. Ela mesmo o fazia.

Um dia eu estava cantando um musica sertaneja que estava a tocar no rádio e não percebi que ela estava prestando atenção. Mais tarde ela me perguntou quem cantava aquela música e respondi; Milionário e José Rico e a musica chama Viva a Vida. Ela foi internada para um acompanhamento mais cuidadoso e para tratar o inchaço das pernas. Após alguns exames, foi descartado o problema cardíaco. Nós havíamos aventado essa hipotese em nossos papos. O problema poderia ser congenito e só agora apareceu em virtude de ter feitos exames específicos, ótimo, o problema poderia ser renal. Menso complicado. Ela cada vez mais confiante na cura. Deixamo-la no hospital e fomos acampar. A medica havia concordado até em dar alta a ela naquele fim de semana. Tudo estava bem. Bel e Noelia estavam aqui. Nenhum esquema de emergencia foi montado. Todos nós estavamos otimistas com o quadro clinico. No entanto ela foi muito sacana. Foi embora sem dizer nada. Deixou-nos no meio da festa, com o copo de champanhe na mão mas sem brindar. Foi muito triste a despedida. Aquele otimismo não merecia esse fim. Lembrei-me dos versos da musica quando ajudava a coloca-la no caixão:

"Quebrei a taça da amargura
espalhei seus pedaços ao vento
gritei bem alto VIVA A VIDA
O sol que andava meio ausente
voltou a brilhar novamente...."

A vida náo me pareceu mais infinita naquele momento.....
(Alvaro - Out/1990)

6 comentários:

Naninha disse...

Queria dizer tantas coisas...foram momentos muitos difíceis. Quando me recordo impossível conter as lágrimas. Lembro bem do dia que ela foi para São Paulo, havia certeza que voltaria,deixou algumas roupas no meu guarda-roupa. Hoje vendo os meninos tão bem, as netas, Isabel e Fernando, tenho sempre a sensação que ela sempre esteve cuidando de todos.Com a dor da saudade, mudamos, melhoramos, nos confundimos e enfim acreditamos que a vida tinha que continuar.

Betty Boop disse...

Dani,
Linda homenagem!!! Emocionante!!
Concordo com Naninha!! Tenho certeza que ela está e sempre esteve próxima, cuidando, protegendo!!
Que Deus a ilumine!!
Rose

Bel B disse...

Daniela,
Coincidência incrível, quinta e sexta a noite, li vários C.A.s antigos e vi muita coisa engraçada e também esses momentos tristes e que até hoje mexem com a nossa emoção. Até pensei em fazer algumas postagens de coisas antigas, não esta especificamente. Você fez uma bela homegem! Obrigada.

Bel B disse...

Esqueci de comentar... adorei a foto!...

Ivana disse...

Como diz Álvaro,

"Ela nos deixou com uma tarça de champanhe na mão....sem brindar."

Foi o momento mais triste que passei em toda a minha vida!

Muitas saudades de uma "amiga" muito especial.

Ivana

eleusa disse...

Os seus últimos dias foram conosco aqui em Sampa.Foram tantos papos, relembrando a sua vida como tinha sido até o momento e ao mesmo tempo foram muitos planos para o futuro que foram interrompidos e não deu tempo de ser concretizado.
Ela se foi deixando muitas saudades, mas deixando também 3 filhos maravilhosos marcando a sua presença no nosso meio.

Casamento de Amelinha e Arlindo - 1947

Casamento de Amelinha e Arlindo 1 - Maria Rosa Andrade 2 - Nicácia Andrade 3 - Amelinha Barreto 4 - Arlindo Martins 5 - Cecília Martins 6 - ...