sábado, março 15, 2014

MMS


No final da década de 90, meu pai chegou em Vilas do Atlântico, onde eu morava, com uma incumbência: escrever um texto sobre seu pai, MMS, para um livro que alguém estava preparando sobre Iguaí. Não conhecia a veia literária de meu pai, mas ele ditou um texto que recentemente encontrei no meu baú e achei que merecia seu publicado no Caravana. Aí vai o que ele escreveu...
 
Manoel Martins de Sousa
MMS (1894-1980)

Rodávamos na segunda década do século que hora se finda. O mundo ainda estava conturbado pelas consequências da Grande Guerra (primeira). Empresas entravem em decadência pela situação mundial do café, grande comércio do Brasil, principalmente com a Alemanha.
O cidadão MMS (mê-mê-si), originário do município de Santo Antônio de Jesus, jovem florescente comerciante de tecidos e compra de café nas cidades de Nova Laje, Mutuípe e Amargora, dirigia sua organização em Amargosa. Era filho de Maria José Andrade e Nicolau Martins de Sousa, este sem qualquer tradição, sabendo-se apenas que descendia de portugueses. MMS casou-se com Cecília Andrade, filha de João Batista de Andrade e Maria Rosa de Jesus. Desta união surgiram catorze gestações com sobrevivência de apenas cinco: Isaias Andrade de Souza, falecido recentemente, em 8 de setembro de 1999; Doralice Benjamim de Souza, falecida em 1989, Arlindo Martins de Souza, hoje médico aposentado e pecuarista atuante, Carmélia Martins de Sousa, dona de casa, e Noeme Martins Barreto, professora aposentada.
Manoel Martins de Sousa, iletrado e inteligente (não tinha nem o curso primário), foi um grande empreendedor. Com a quase falência total que passou em Amargosa, no período de 1918-19, transferiu-se para a área que adquiriu por troca em resto da massa falida – Fazenda Disciplina, no Ribeirão dos Índios, município de Ibicuí. Laborioso e progressista, arrumou o novo empreendimento e partiu para novas aquisições.
Em troca de propriedades, adquiriu a Fazenda Iraci, no distrito de Iguaí, que, nesta época, era dirigido pelo Sr. Fulgêncio Teixeira. Pouco tempo depois, o representante oficial da Vila de Iguaí foi substituído por Manoel Martins de Sousa, por nomeação do amigo e conterrâneo Dr. Francisco Peixoto Jr., médico e prefeito do município de Poções.
Do encontro com Dr. João Duarte, professor da Escola de Engenharia, surgiu a primeira ideia do aproveitamento das águas do rio Gonguji para a implantação de uma usina geradora de energia para iluminação do distrito e implantação da indústria madeireira. Manoel Martins aproveitou a ideia e resolveu montar a usina, apesar do grande empecilho pela falta de rodagem para levar a grande e pesada turbina de Poções até Iguaí. Apareceram então dois aventureiros que se comprometeram a realizar o negócio: um nortista de nome Mário e Adonias Natal de Souza, sobrinho de MMS. Fez-se um verdadeiro mutirão e cerca de quarenta homens contribuíram para a descida da turbina na Serra de Capa-Bode. Sem uma estada carroçável, o caminhão com a dita cuja desceu a Serra de ré, amarrado com cordas, seguro pelos voluntários.
Em Água Fria, o caminhão foi devidamente homenageado, cuja oradora, Lidinha, até hoje se lembra da emoção contida no discurso para um veículo motorizado. Este recebeu de presente um panacum de bananas para sua alimentação!!!!!. É conveniente ressaltar que, na região, poucos conheciam veículos motorizados, especialmente um do tamanho de um caminhão.
Finalmente foi instalada a Usina e Iguaí foi o primeiro distrito beneficiado com energia elétrica na Região. Nesta época, o povoado de Iguaí dispunha de casas, pequeno comércio de mercearia e escola. Um grande contingente de pessoas veio de Juciape e outras regiões, para Iguaí, sendo pioneiras a família Novaes, liderada por Bráulio Clementino Novaes, a família Dantas, liderada por Almerindo Plácido Dantas e os Chequer.
O distrito tomou importância de Município, cujo título foi outorgado em 12 de dezembro de 1952.
 Imagem da Uzina Iracy de Manoel Martins de Sousa
Manoel e Cecília com os filhos Isaias, Doralice e Arlindo com 1 ano de idade (nú) - (1919-20)
 
Formatura de Arlindo (14/12/1946) - foto dedicada a Amelinha, futura esposa

6 comentários:

Bel B disse...

Que bom Célia! Eu estava me lembrando deste texto um dia destes e procurei aqui pelo "meu baú", mas não encontrei...

eleusa disse...

MMS foi um batalhador. Fico feliz por ter passado uma parte da minha vida, ainda com ele em nosso meio. Que bom Célia por ter compartilhado conosco esse texto.

Anônimo disse...

Difícil conter a emoção em relembrar fatos históricos de um verdadeiro herói. Depois de tudo que fez por Iguaí, o "povo" - sempre ele - não o elegeu Prefeito quando a vila passou a município.
Um abraço a todos,

Hamilton Ipê

Também foi muito bom rever fotos de Inocêncio.

Anônimo disse...

Celia,

Grande achado, gostei do texto mas as fotos sao melhores ainda!! Precisamos achar mais destas e preservar.

Lula (dasequacao)

Celia disse...

Durante o artigo mantive os Sousas de acordo com as indicações de meu pai quando escreveu. Segundo ele, cada um assumiu a ortografia do seu "Sousa", ops "Souza" (???!!!)

Fernando disse...

Quando falo dos Martins nunca me referenciei ao patriarca MMS. Os Andrades não souberam ver o grande valor dos Martins e Barreto, em especial, o Grande Empreendedor MMs e o Grande Pensador Zezinho Barreto, meu pai.

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