sábado, abril 20, 2013

Uma figura ciclópica


De tanto falar nos direitos das Empregadas Domésticas me lembrei de D.Maria Amélia, que trabalhou na minha casa por mais de 10 anos e saiu para se aposentar. Um dia destes, me bati com ela na rua e ela quis saber notícias de todos.

D. Amélia é uma figura ciclópica,  como diria Montanha.

Abre parêntesis:
Por sinal, encontrei no dicionário:

ciclópico 
adj.
3. [Figurado]  Gigante; enorme; rude.

E eu achava que esta palavra era um neologismo criado por Nelson (para a gente não deixa de ser).
Fecha parêntesis.

D. Amélia era péssima cozinheira, boa faxineira e passava ferro divinamente, foi o que nos encantou. Nenhuma que trabalhou comigo sabia passar ferro tão bem, como eu também não sei. Costumava colocar minhas roupas de trabalho na lavanderia para virem bem passadas, antes de D.Amélia, claro!
Na tarefa que melhor desempenhava, o ferro, passava horas com a tv ligada e conversando só ou com a própria tv.

Alguns diálogos:
Bom dia ou Boa tarde -  sempre  respondia aos repórteres dos jornais. E se um dia algum deles não era o de costume do horário, ela perguntava:
“... ô!.. é você hoje? Cadê o outro?”

Passava o dia trabalhando e falando sozinha sobre as novelas e dava sonoras gargalhadas. As vezes fazia comentários  das propagandas. Havia uma de refrigerante,  em que um homem (já coroa) paquerava uma adolescente num elevador e ela o chamava de “tio”. Fez tanto sucesso, que criaram uma continuação. Quando D.Amélia viu esta segunda, comentou:
“este cara não toma jeito não?”..

Apesar de noveleira fanática, inclusive, “Vale a pena ver de novo”, ia para a escola a noite. Fernando dizia “esta é uma estudante de verdade!”,  pois sem nenhuma obrigação não abandonava a escola e perdia as novelas. E os deveres de casa? Principalmente matemática, era o caos. Para D.Amélia aprender o “vai 1” nas contas de diminuir... só mesmo a paciência de Naninha por anos a fio. Depois Iuri assumiu o posto.
Um dia ela filosofou: “a coisa que acho mais bonita é quem sabe matemática de lápis. Eu queria aprender. Se eu soubesse, até comprava uma máquina de calcular”.
Ela costumava se referir a mim, na minha ausência, como “madame”, mas acho que tinha mais pose de madame que eu. Quando morávamos em Vilas, ela só ia para casa nos finais de semana, então  reclamou que não estava tendo tempo de ir para o Salão de Beleza. Liberei um dia de semana, mas ela não usou. Um dia ao chegar em casa encontrei D.Amélia sentada com o uma toalha enrolada na cabeça e uma manicure  fazendo suas unhas!. A própria Madame... 

4 comentários:

Fernando disse...

Sempre gostei das pessoas expontânea D.Amelia era uma delas.
A casa da liberdade,aguarde a história da calcinha vermelha.
Agradeço a D.Amelia a sua contribuição.
Igor tem muitas historias.

Fernando

Igor Matos disse...

O melhor de D. Amélia era a disciplina. Tudo tinha seu lugar, logo se vc procurava era fácil de achar, muito diferente de todas as outras empregadas que conheci.

Luciano Leto disse...

É isso ai Igor, porem fico com a eficiência de passar roupa. Certo dia comentei um dia com Fernando, bicho eu já tinha esquecido da palavra vinco, saia de casa todo vincado. rsrs

eleusa disse...

As poucas vezes que passei por lá eu me divertia conversar com D. Amélia. Certa vez cheguei e a vassoura estava bastante gasta. Dei uma saída e voltei com uma vassoura nova. Daí ela me agradeceu e disse que estava cansada de pedir a `madame`, mas ela nem ligava com o pedido dela.
Uma figura D. Amélia.



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