terça-feira, fevereiro 16, 2016

Autoajuda

Adolescente, quando fui estudar em São Paulo, todos de minha idade liam Hermann Hesse, principalmente Sidarta. Às vezes, passávamos horas discutindo as mais diversas interpretações deste “sábio” descontente com os ensinamentos brâmane.
Naquela época também tínhamos um “uniforme” próprio: a camisa vermelha da Lacoste, a calça jeans, Lee ou Levis, o sapato mocassim e a meia vermelha, preferencialmente.

Mais tarde, a leitura de Dale Carnegie, num estilo bem americano, para ensinar a arte dos relacionamentos, principalmente no aspecto profissional; no campo filosófico, entra Kundera com a insustentável leveza do ser.

Daí em diante, começa a chover livros de autoajuda com muitos gurus, cada um mais “sabido” que o outro, prometendo felicidade e lote no céu. Creio que o guru mais guru desta onda é Paulo Coelho, que deve estar até hoje na crista da onda.
Depois de me aventurar por Sidarta e Demian, mais tarde o Alquimista, Brida e algumas páginas de As Valkírias, desisti de andar por esta área. No dia a dia, O Pequeno Príncipe é mais que suficiente para dar um empurrãozinho e levantar o ânimo, no aperto, pode-se sempre recorrer a Jesus, Buda ou Lao-Tsé.

Todos nós temos nossas frases de impacto retiradas dos livros de autoajuda (por exemplo, você é responsável por aquilo que cativa), mas acredito que o que funciona mesmo são as coisas da vida e, em especial, os ensinamentos da família.
Quando Mariana tinha algo como seis anos, ela estava fazendo o dever de casa e falou: mãe, “antigamente” eu não sabia como escrever esta palavra. Eu quase desmaiei: se minha filha de seis anos tem antigamente, o que eu tenho. Aprendi Nana, o tempo é mesmo relativo, todos nós temos nosso passado, presente e futuro, não importa a idade (o meu antigamente pode até ser maior do que o atual ou o esperado, mas felizmente tenho todas as opções).

Um dia, cometei com minha mãe como era grande o rosto da fotografia de Lula no seu crachá da empresa. Minha mãe então me disse que Lula nasceu com seis quilos e sua cabeça era enorme e refletiu: ainda bem que eu era ignorante nesta época, se fosse mais esclarecida, teria perseguido os médicos para tratar a hidrocefalia de Lula. Há algum tempo, certifiquei-me que sou disléxica, por isso nunca aprendi onde está a esquerda nem a direita, nem onde é em cima ou embaixo, se não usar as referências que eu mesma criei. Os números, então, misturam-se mais que as cartas do baralho de tio Fernando. Se tivesse consciência disso antes, nunca teria cursado engenharia, nem feito outras coisas na vida. Ponto para a ignorância. Aliás, Buda e Lao-Tsé recomendam que aceitem que anjos podem ter sexos, mas, e dai? Se o sexo dos anjos não faz diferença na sua vida, aceite e esqueça.
Estávamos em São Paulo com um ilustre hospede: tio Edinho. Um dia, sentados na mesa, conversando, acompanhado com uma lata de goiabada. Cada um tirava uma lasquinha, menos Edinho. Aí ele nos contou que, quando criança, em Três Morros, uma lata de goiabada era um quitute especial, com as partes finamente divididas ente todos os irmãos. Guloso como ele só, prometeu comprar um montão de goiabada e comer sozinho logo que ganhasse seu primeiro dinheiro. E assim fez... Não conseguiu passar da metade da primeira lata. Moral da estória: não tente trazer para outra época o que foi importante em uma determinada. Guarde e curta a lembrança dos fatos passados e evite a decepção tentando repetir a emoção. Busque outras apropriadas à situação atual.

E, finalmente, a despeito de todos os gurus, aprendi como tirar partido das situações com Nicácia. Morávamos em Dias D’Ávila e Nicácia prometeu me ensinar como fazer um cozido. Nunca foi tão fácil aprender. Na hora de servir o dito cujo, fui preparar o pirão, que embolou. Botei a mão na cabeça e desesperada perguntei: e agora vó, o que faço? Ela respondeu: “se preocupe não minha filha. Leve o pirão para mesa e diga logo: gente, eu adoro pirão embolado e quase nunca consigo fazer. Hoje ele ficou no ponto certo.
Grande Nicácia e outros mestres de família, não tem Paulo Coelho que lhe os superem.

10 comentários:

Bel B disse...

Meu professor de ginástica, mais novo que eu pelo menos 30 anos, me disse para não falar "antigamente"... substituir por "há alguns anos atrás". Tento.. rsrs

COncordo que o passado a gente recorda de vez em quando mas não adianta querer viver as mesmas emoções. Já reli alguns livros que adorei da primeira vez e foi uma decepção. Com filmes também. É claro que tem as exceções, os clássicos do cinema e da literatura, podem e devem ser repetidos.

Quem não leu Autoajuda que atire a primeira pedra!.. pra adolescente vai bem.

Fernando disse...

Quem nao leu auto ajuda........EU

Com muito orgulho.

Fernando

Anônimo disse...

Célia, sempre soube que você foi das melhores engenheiras da Cetrel (?), boa de cálculos e tudo que se aproxima, mas!!!!, não sabia que tem um veio de escritora. Que bom!

Adorei seus escritos, porém.............., vou utilizar este espaço que parece me ser permitido para tentar localizar um "cara" que não "dá as caras": "Igor". Ele mesmo, o texano que esqueceu dos seus súditos. Tento me comunicar pelo e-mail, não responde. Falo com Bel e Ferro para falar com ele, e, parece, querem brindá-lo porque não dizem nada.

Nenhuma notícia!

Sei que ele é assíduo leitor do Blog, e, por fim, vai tomar conhecimento.

Portanto, digo do que se trata: "Caso não consiga um aparelhinho, que só é vendido nos States - AIRING - produto que, dizem revolucionário contra o RONCO - corro o risco de minha mulher se separar de mim, pois o meu RONCO - aquele troço que faz barulho a noite toda - está cada vez pior, parecendo o do Tio Arlindo. E como você citou o Pequeno Príncipe: "você é responsável pelo que cativou.....", não quero perder a mulher, entendeu, Igor?

IGOR, mande o seu e-mail, pois preciso que você busque o "troço" para mim. Não vou lhe dar prejuízo. Necessito de informações confiáveis.

Agora, você não pode escapar, meu jovem?

Help!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!,3

Raminho.

Anete disse...

Raminho, temos na família um especialista em sono. Daniel, filho de Eliezer e Sandra tem uma clínica em Conquista. Creio que pode pegar alguma informação com ele.

Anônimo disse...

Obrigado, Anete. Vou verificar.

Igor Matos disse...

Segue email - Imatos0206@gmail.com.

Igor Matos disse...

Vou comprar deixe comigo.

Igor Matos disse...

Tarefa dada, tarefa cumprida. Airing já chegou em Houston, chegará em SSA na próxima sexta dia 11 de março.

Mariana disse...

O meu "antigamente" hoje está bem maior... ;(

Celia disse...

Raminho
Comente os benefícios do AIRING no Caravana. Afinal, ronco é um problema familiar, não sei se desde ou antes Arlindo, mas que a maioria dos parceiros reclamam, isto sim!

Casamento de Amelinha e Arlindo - 1947

Casamento de Amelinha e Arlindo 1 - Maria Rosa Andrade 2 - Nicácia Andrade 3 - Amelinha Barreto 4 - Arlindo Martins 5 - Cecília Martins 6 - ...