Não é fácil ser filha de Amélia
Gozo
a singularidade de ser a única filha de Amélia. Passei por todos os passos e
sentimentos normais na relação entre mãe e filha. Na infância, ela me ensinava
e orientava; na adolescência, eu a afrontava, querendo bater as asas que ainda
não crescera de todo; na fase adulta, partilhamos a amizade, com muito respeito
e admiração mútua. Tínhamos naturezas diferentes: Amélia curtia as receitas, a
cozinha e o crochê, enquanto eu, apenas me virava na cozinha e nunca tive
habilidade manual com as agulhas; ela gostava de conversar, discutir qualquer
coisa por horas, eu sempre procurei encerrar qualquer assunto em poucos
minutos.
Quem
não se lembra dos sermões de Amélia? Confesso que preferia algumas amorosas
palmadas a eles, mas ela se determinava a falar, falar e falar de modo que
nunca mais eu, nem ninguém, repetiríamos algo que pudesse gerar esta situação.
Recentemente uma prima comentou como tinha saudade dos sermões de Amélia, e sei
que todos nós temos. Ainda hoje, se acontece algo especial na família, fico a
pensar o que a minha mãe falaria.
Vestidos,
colchas, xales e outras coisas made by
Amelinha eram sua marca registrada. Foi com um vestido de crochê que
comemorei meus quinze anos e mais tarde, de crochê, casei-me, além de também alguns
outros momentos especiais, especialmente a cortina que tenho hoje no meu
escritório.
Cortina by Amelinha |
Quando
minha mãe iniciou a pesquisa para identificar as particularidades da
alimentação no Planalto de Conquista, ela comentou que ali estava a oportunidade
de escrever o livro que sempre sonhara. Todos ficaram na expectativa, mas, do
projeto ao livro, haveria ainda muitas etapas. Com sua peculiar persistência,
Amélia foi realizando todas elas com muito entusiasmo. Todas as receitas que
constam do livro foram preparadas e provadas por ela, parentes e amigos.
Para
escrever, Amélia tentou usar um computador, depois uma máquina de datilografia
elétrica e, finalmente, acertou com a velhinha germânica Olimpia, que já havia resistido
a todas nossas investidas infantis para aprender datilografar. Aí acertamos o
passo: Amélia datilografava os capítulos em Conquista, enviava para Salvador, e
eu digitava. Pedi ajuda a um auxiliar que trabalhava na mesma empresa que eu
para digitar as receitas. Em pouco tempo, todos os funcionários do Laboratório
que trabalhávamos discutiam as receitas e lembravam-se de como as próprias mães
faziam esta ou aquela comida. Depois de idas e voltas de capítulos e receitas,
num glorioso final de semana, contamos com a presença de tio Nilson em minha
casa para a revisão final do texto. A próxima etapa foi preparar o material
para a gráfica e conter a ansiedade. Máquina de datilografia que Amélia preparou seu livro |
6 comentários:
Saudades de Amélia...e muitas lembranças agradaveis!
Muito bom este texto de Célia. Adorei.
Imagino que não é fácil mesmo ser filha de Amelia. Relação mãe-filha só Freud...
Muito bom Célia, apesar dos sermões, sempre fui muito grata a Amélia, aprendi muito com ela,sinto falta dela sempre.
"Fale mal do meu país....., mas fale bem de tia Amelinha....".
Quem disse que ela não era da cozinha? Alguém já experimentou aquele macarrão a alho e óleo? Aquele macarrão bolonhesa? E ainda mais com pimenta? Aquele doce de coco? Aquela torta de ameixa? O mano Ferro fica pra trás!
"Ei turma, esconde tudo que os filhos de Carmélia estão chegando"!
Um viva a Tia Amelinha.
Amélia
Minha irmã com muito orgulho.
A irmã retada ,sempre provocou os fracos e os fortes,era uma forma das pessoas aprenderem a competir,buscar novas alternativas.............ela pagou muito caro.
Alimentar a turma de Carmélia era um desafio.
Prefiro ficar só com as coisas boas de tia Amelinha.
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